sexta-feira, 19 de junho de 2009

“A TRANSIÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO PARA O TRABALHO LIVRE NO BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS”

A partir das análises de Azevedo, Costa, Domingues e Nabuco.

Onda negra, medo branco
O negro no imaginário das elites –século XIX

Escravo, sklave, esclavo, esclave, slave ou schiavo.
Seja em português, alemão, espanhol, francês, inglês ou italiano, deparamo-nos com uma expressão muito próxima esteticamente, e vezes muito próximas também na representatividade do símbolo que a palavra se incumbe de carregar. Porém, a mesma remete-nos a contextos excepcionalmente diversificados, conservando apenas algumas características que chamamos de “pontos em comum”. Tais pontos em comum nos autorizam, à partir de então, a emitir um juízo de valor acerca do que é e do que não é Escravidão.
Por se tratar de uma idéia, ou um molde ideológico de longa duração, que permeou “quase” a totalidade dos séculos primitivos e civilizados, torna-se impossível tentar no plano literal explicar o que foi a Escravidão, visto tratar-se de um contexto social-ideológico, com peculiaridades específicas, em cada sociedade, e seu respectivo momento histórico. Assim sendo, longe da tentativa de um estudo aprofundado da “instituição Escravidão”, limitar-nos-emos a uma analise especifica do imaginário de um pequeno grupo, representante da elite social encontrada na província de S. Paulo no final do século XIX.
Para tanto teremos por suporte a obra de Célia Maria Marinho de Azevedo intitulada “Onda Negra, Medo Branco: o negro no imaginário das elites – Século XIX ”.
Ao iniciar tal análise se faz necessário tornar evidente a representatividade social que possuía este grupo, a quem chamamos de “elites”.
Por se tratar em sua grande maioria de herdeiros do pensamento português, e este ser, essencialmente, baseado no cristianismo católico; que por sua vez é herdeiro de um “judaísmo escravocrata”, deparamo-nos com a seguinte questão:
que representações davam suporte a este imaginário (escravista)?
A analogia nos leva a concluir que por se tratar de uma sociedade regida de muito perto por sua religiosidade, temos então uma divindade que legitima e regulamenta tal modelo social. Assim, uma vez cristalizado tal pensamento, chegamos próximos de um imaginário que admitia como “natural” a submissão de uma “raça inferior” a outra, tida como “superior”(1).
Respaldados nesse discurso, em um primeiro momento, temos a escravização de indígenas sob o pretexto de levar a civilização e a salvação aos ‘selvagens’.
E a partir de um determinado momento que vai de encontro aos interesses da Coroa Portuguesa vemos o posicionamento da Igreja, através da bula ‘Veritas Ipsa’, publicada em 1537 pelo papa Paulo III, em que condenava a escravidão dos aborígenes do novo mundo(2).
A partir de então temos a substituição desta mão-de-obra pelos africanos.

(1) Conceito comum entre os Gregos antigos e defendida por Aristóteles em sua obra “A Retórica”.
(2) Ver Arroyo.Leonardo, Novo Dicionário de História do Brasil,São Paulo 1970, ed Melhoramentos, pp255.







SITUAÇÃO VIGENTE E DESCONFORTO SOCIAL


Iniciemos agora esta discussão a partir do desconforto social vivido pela sociedade Brasileira por volta de 1860.
A autora, de forma brilhante, inicia sua análise com a seguinte Poesia:


“Homens! Esta lufada que Rebenta
É o furor da mais lôbrega Tormenta...
-Ruge a Revolução


E vós cruzais os braços ...Covardia!
E murmurais com fera Hipocrisia:
-É preciso Esperar...


Esperar? Mas o quê? Que a Populaça,
Este vento que os tronos Despedaça,
-Venha abismos Cavar”.

Castro Alves,
Estrofes do Solitário



Estas estrofes nos ilustram o assunto que foi palco de intensas e calorosas discussões acerca da preocupação deste grupo, em encontrar a resposta à pior das indagações:
O que fazer com os negros libertos?
De forma sensata e coerente, temos em sua obra o respaldo do subjetivo social que fica explicitado já no título, “Onda negra, medo branco”, apresentado respectivamente pelo enorme contingente que era a população escrava, inculta e irracional e que, por ser desta forma, ou por desta forma ser vista pela sociedade elitizada, gerou uma terrível inquietação. Cuja inquietação será explorada a seguir.
Temos então uma sociedade escravocrata, que está à beira de um colapso, representado, evidentemente, pela ruptura deste sistema escravista. Dessa forma, teremos a cúpula pensante desta elite se desdobrando para estancar esta sangria em potencial

“ Ao negro deformado pela escravidão e longe ainda de se integrar à sociedade de classes em formação coube apenas o papel de ‘elementos residuais do sistema social’. Este período da História social do negro na cidade de São Paulo resume-se a expressão ‘anos de espera’, em que a grande massa de negros , a margem da vida social organizada e de toda a esperança, sucumbe a própria inércia”. Nem mesmo as poucas exceções incluíram-se ‘entre os fatores mais vantajosa que a maioria dos negros’. Isto porque ‘eles não estavam nem estrutural nem funcionalmente ajustados as condições dinâmicas de integração e expansão da ordem social competitiva...’ portanto Fernandes conclui que a repulsão do negro pela cidade não se colocava em termos raciais...”(3)

Vemos então a ciência tentando legitimar o racismo a qual os negros eram submetidos, e a partir desta citação entramos em contato com um fragmento substancial deste imaginário, onde a autora nos sinaliza a imensa absorção desta elite à doutrina positiva.
Doutrina esta detentora de verdades essencialmente ‘convincentes’ e que fluíam de forma a desembocar em uma sociedade ‘progressista, ordeira e harmoniosa’.

(3)Célia citando F.Fernandes, A integração do negro na sociedade de classes,op.cit,pp.46-95
TEORIA DA SOCIEDADE POSITIVA E COMPLEXIFICAÇÃO DOS CONFLITOS


Embasados em tais teorias poderíamos por ventura relacioná-los à complexificação dos conflitos sociais existentes?
Recorramos à autora para uma tentativa de resposta.
Segundo a autora, neste período a sociedade brasileira se dividia em um grande contingente de escravos, alguns índios e pobres livres, uma burguesia em constante ascensão e a elite propriamente dita. Os primeiros, por sua vez, encontravam-se emaranhados em um ambiente “escravista, retrógrado e irracional”. Eram vistos pela classe dominante como a representatividade da escória social, sendo fácil a assimilação de seus efeitos e complexo ao ponto em que inquietamo-nos à identificar suas causas partindo do fenômeno em si.
O desconforto social, inicialmente citado, parece permear todas as camadas desta sociedade, visto o descontentamento dos escravos e os conflitos inerentes a este quadro, e por fim, a formulação de um discurso capaz de remodelar o imaginário das elites, com o intuito de re-elaborar a sociedade brasileira. Ou seja, identificamos neste período, o fim, ou uma descontinuidade de um paradigma que esteve estático por vários séculos. Inicialmente era necessário apenas uma mínima parcela de pensantes e uma grande proporção de mão-de-obra não critica. A partir de certo ponto, vemos a preocupação desta elite em construir uma sociedade irracional, onde todas as peças e engrenagens deveriam estar indiscutivelmente lapidadas nos mais diversos aspectos: morais, religiosos, étnicos e psíquicos, entre outros. Assim fica fácil compreender o símbolo criado por esta elite a fim de classificar e rotular a “populaça” negra e mestiça como incapaz de possibilitar, ou pelo menos auxiliar no processo de reformulação social, tornando-se assim como um grande entrave para o processo. E dessa forma não haveria outra opção senão desfazer-se do problema.
Compreendemos, em parte, que a busca do europeu jamais significou a busca de uma sociedade intelectualizada, e sim, uniforme e obediente aos padrões vigentes. Então percebemos um discurso que, na verdade, utilizou-se de subterfúgios para legitimar suas intencionalidades.
Em uma sociedade positiva que vislumbrava um doravante social equivalente a um grande relógio jamais encontraria espaço engrenagens “in-formes e ocas”, necessário seria introduzir no Brasil as bases incontestáveis de uma sociedade forte, civilizada, ordeira, progressista e harmoniosa: o imigrante europeu.
Este, contrário à deformidade da escravidão era detentor sobre tudo do alvo tão desejado: a racionalidade.
Uma vez cristalizado, pelo menos a grosso-modo, o discurso de que o nacional era incapaz de conduzir a nação ao progresso, surge um novo questionamento:
Porque a preocupação e busca incessante pelo progresso?
Possivelmente, como coloca a autora, pela fusão ideológica propiciada pelo avanço científico onde nasce um certo “darwinismo social”, para ir de encontro às teorias positivas, através das quais procura-se provar que a inferioridade do nacional devia-se às suas origens biológicas africano/português, desclassificando a ambos de seu ideário, e arremetendo sua inferioridade às legitimações científicas, questões essas típicas de períodos de transição e este em específico de um sistema pré - capitalista pára o capitalista no termo mais completo da expressão. Para este momento de transição Célia destaca quatro importantes personalidades:
- os escravocratas;
- os abolicionistas;
- os emancipacionistas;
- os imigrantistas;

Os primeiros defendiam a manutenção do sistema vigente, o grupo seguinte a ruptura ( ? ) do mesmo, e os próximos um certo ponto de fusão entre as anteriores, os últimos a substituição do escravo pelo branco europeu .

“... mas o alvorecer do século XIX trouxe dois grandes acontecimentos que influíram grandemente neste arraigado modo de vida escravista.
Por um lado o movimento emancipacionista tomava vulto nas ruas miseráveis, nos ricos salões e no parlamento da Inglaterra, determinando o inicio das pressões internacionais contra o secular tráfico de negros da áfrica para as colônias de além mar. O Brasil recém-independente herdaria por seu turno estas incomodas pressões da nação capitalista mais poderosa de então... (4)”

Esta citação traz, sem sombra de dúvidas, o módulo que ainda estava omisso; através do qual concluímos o porquê do desdobramento parlamentar, e extra-parlamentar, em difundir tais ideais, frutos de um interesse infinitamente maior do que sua realidade imediata, propriamente dita.Visando assim, obedecer aos interesses econômicos da verdadeira classe dominante: os ingleses. O Brasil parte então para sua almejada re-estruturação, a fim de satisfazer as expectativas aqui depositadas.

“o fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira no último quartel do século XIX foi, sem lugar a dúvida, o aumento da importância relativa do setor assalariado...”(5)

Com esta afirmação entendemos que a instituição “Escravidão” sofre uma descontinuidade no sentido pleno do termo, devido a necessidade de uma re-formulação em suas bases político-econômicas, evidentemente gerada pela “febre” contagiante da Revolução Industrial inglesa.
Inicialmente, aparecem os projetos Emancipacionistas com o intuito de assimilação desta nova proposta para desembocar nos conceitos abolicionistas.
Tal leitura remete-nos a uma interpretação mecânica dos acontecimentos, reproduzindo assim a idéia de ação e reação/causa e efeito, que, às vezes carrega aspectos “verídicos”. Porém, ao se traçar uma meta de verossimilhança necessária será um maior desdobramento.
Fica então evidente, a grande preocupação com o destino da população brasileira


O “AMOR” AO TRABALHO E A IDÉIA DE UMA SOCIEDADE POSITIVA

“em 1820 um paulista formado em direito em Coimbra ofereceu uma ‘memória’ a D.João VI em que procurava chamar a atenção do soberano para a necessidade de se formar no Brasil uma população homogênea e integrada num todo social. Em ‘Memória sobre os melhoramentos da província de S.Paulo’, Applicável em grande parte a todas as outras províncias do Brasil (Rio de janeiro,Nacional,1822) AntonioVellozo de oliveira denunciava a existência vegetativa e isolada de um povo anti-social, que justamente por não conhecer prazeres , nutria um verdadeiro ‘Horror ao Trabalho’, e no entanto para que a indústria bem como todas as virtudes sociais , tivesse início, constituindo um ‘povo enérgico, rico, vigoroso, sábio, e por todos os modos respeitável’, seria preciso, antes de mais nada, instruir a população e ‘mostrar-lhe um lucro fácil, possível de ser obtido, sem muita fadiga’, o que evidentemente caberia ao Governo amparar, mediante a antecipação de capitais... o que por fim produziria a necessidade e o amor ao trabalho”(6)

(4) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág. 34-35
(5) ver Furtado.Celso,”Formação Econômica do Brasil”, São Paulo 1985,Ed..Nacional, Pág. 151
(6) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág.37-38 .


Tal como se apresenta esta idéia, evidencia-nos que em décadas anteriores este conflito já estava presente e cristalizado no cenário social. No entanto, ou fora omitido ou simplesmente ignorado pelas autoridades políticas em vigência, que por conseguinte, toma forma e passa a ser assunto de extrema relevância, unicamente pelo fato de ter ido ao encontro dos interesses econômicos em jogo. Desta forma, é importante frisar que os conflitos, a resistência e as contradições sempre estiveram atuando de forma contínua, seja como protagonista ou coadjuvante.


INFLUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

“A opressão tem um irmão gêmeo, a resistência!”
(Fabiana Schleumer.)


Temos então um velho problema, com sua solução freqüentemente adiada. Porém, mesmo que tardiamente, “a brisa nebulosa da Revolução Industrial soprará nessas terras tropicais com o intuito de finalizar este paradigma e expirar em solo brasileiro ventos de progresso e ordem social”
A autora intitula o capítulo I como: “Em Busca de um Povo”. E através dele deixa transparecer, segundo a mentalidade da época, qual seria o modelo ideal de cidadão: trabalhador, e obediente aos padrões morais e éticos (a grosso-modo, o indivíduo “culto”, tal qual eram os europeus contemporâneos).
A partir de então passa-se a discutir o fenótipo e estereótipo ideal para constituir a “sociedade do novo Brasil”.
Isto nos lança na grande Problemática: para obedecer aos padrões positivos e ao ideário europeu de civilização, o Brasil necessitava passar por uma complicada “metamorphose” que poderia ser gradativa ou instantânea.
Desta forma as opiniões variavam entre reciclar a mão-de-obra, ou desfazer-se do problema devolvendo os negros à África.


A UM PASSO DA “RECICLAGEM”

Vamos a “Reciclagem”.
Neste contexto temos o registro de várias propostas a fim de se aproveitar a mão-de-obra, entre elas vale citar a Pedagogia da Transição(destinada aos órfãos afim de cristalizar nos mesmos uma rotina de trabalho e moralidade),
A formação profissional para uma parcela desta sociedade(cursos de alfaiate,ferreiros etc), a promoção de um discurso ideológico onde buscava introjetar nestes nacionais pobres e livres o cultivo do Amor ao Trabalho,a repressão Policial àqueles que se entregassem ao Ócio, e uma inevitável Transfusão de Sangue(européia) para Embranquecer e Racionalizar o escravo “Liberto”.

Seria possível uma Sociedade passar por tal transição de Sistema Econômico com um prejuízo Insignificante?Como lidar com uma possível escassez de Braços?Dentro do contexto especifico do Brasil seria possível ou viável sua implantação?

O enaltecimento do imigrante Europeu se deu, talvez não pela busca de uma Sociedade(mão-de-obra) que iria pensar juntamente, e sim, àquela que iria “subjulgar-se ou subordinar-se” pela força ideológica ,





O medo poderia supostamente apoiar-se na questão em que uma Sociedade acostumada com a força bruta,após libertos confundiriam liberdade com libertinagem e dificilmente obedeceria a uma mera “pressão Ideológica”,algo que geraria uma gigantesca Onda de Livres Miseráveis entregues a marginalidade, desta forma,o Caos Social, colocando em risco a grande Propriedade e fortuna de seus Senhores, o risco de se ter uma guerra civil assim como houve nos E.U.A, ou , uma revolução tal como no Haiti inspirada na Revolução Francesa era imensa , então na tentativa desesperada de conter tal “Sangria”, surge os projetos Emancipacionistas com a proposta de Integrar Socialmente o Ex-Escravo(domesticá-lo). Para em um primeiro Momento suprir a necessidade de mão-de-obra forçando o escravo a trabalhos compulsórios em troca de sua liberdade,
Temos aqui por parte dos Parlamentares uma Múltipla Preocupação, integrar o nacional,
Ir ao encontro dos interesses dos Grandes Produtores (a qual os mesmos eram seus representantes) e ao mesmo tempo obedecendo as expectativas da Coroa Inglesa.
Com o fim do trafico Negreiro entre África e Brasil, e o nascente boicote do trafico intra-provincial (referente a S.Paulo), A grande preocupação desta Elite,visto que os campos devido ao cotidiano Exaustivo, consumia muitas vidas , Era de ficar sem a mão-de-obra necessária para a manutenção ou multiplicação de sua Fortuna, em resposta a esta:

“...Em O Futuro da grande lavoura e da grande Propriedade do Brazil(Rio de Janeiro, Nacional,1878),este eminente Fluminense que havia sido Ministro da Guerra... Procurou demonstrar que não havia falta de gente no país, mas tão somente o não aproveitamento de populações dispersas e sem terra. Para ele, o problema real da lavoura no Brasil, repousava na grande propriedade,cuja existência estava ameaçada pela próxima extinção da escravatura,que ,segundo suas previsões não duraria mais de10 anos em razão da mortalidade e Manumissões,
Após constatar que a grande lavoura e a grande propriedade não se confundiam ,uma vez que os artigos de primeira necessidade podiam ser cultivados tanto em grandes extensões de terra como também em áreas pequenas , ele enfatizava que o mesmo se poderia concluir para artigos de exportação como a cana e o café, mas se eles existiam apenas em grandes propriedades era porque só os ricos os podiam cultivar, por serem os únicos com condições de compra maquinas e instrumentos caros.
Implícito nessas suas formulações a respeita da grande lavura, estava o temor de que a próxima extinsão da escravidçao colocasse em questão a própria sobrevivência da grande propriedade, afinal, a idéia de libedade já se insinuava perigosamente entre os escravos, que , a exemplo do ocorrido nas colôiasfrancesas e nos EUA, poderiam impingir aos senhores uma “libertaão sem condição alguma” por isso ele se prpunha a responder a esta questão premente:
Como manter a grande lavoura na grande propriedade? Ou,
Como manter incólume o poder do grade proprietário?
A resposta era simples: concretizar antes que fosse tarde demais, uma liberdade apenas nominal e um plano bastante detalhado. Tratava-se em primeiro lugar de dar início ao “retaliamento da grande propriedade”.
O que queria dizer dividir as terrsas em pequenos lotes e distribuí-los às famílias de escravos, de modo que elas se vinculassem definitivamente ao solo, sempre sob o poder do garde proprietário. Era apenas uma questão dee “trocar a denominação de escravos pela de forreiros”, em segundo lugar, era preciso atrair os nacionais, pobres e ivres, e também imigrantes, que decerto ansiariam pela condição de pequenos prprietáros.”(7)




(7) Ver citação de Célia a Henrique Pedro Carlos Beaurepaire – Rohan, pp. 50-51.



Beaurepaire – Rohan elabora tal discussão de forma profunda no final da década de 70, sinalizando uma opção viável a fim de sanar os conflitos em potencial que emergiam a partir de então, idéia nova? Logicamente que não, tal modelo assemelha-se muito com o modo de produção feudal, pó qual ossivelmente lhe inspirou, mas algo que é váido ressaltar é quea principal diferença entre os emancipacionistas e os imigrantistas: é que os primeiros sugeriam a inclusão do ex-escravo no meio social, já os imigrantistas preocupavam-se com o embranquecimento do Brasil, garantindo assim várias vantagens para as famílias de europeus que viessem para o país, a fim de construir uma sociedade positiva, ignorando assim a enorme sociedade que vivia a margem, visto que sua inferioridade os incapacitavam de atingir a sociedade perfeita. Eescravo atuante ou passivo?
Nota-se no desenrolar das múyltiplas teorias a defesa ou o transparecer destas formas contraditórias, ou seja, em respeito a cada tese defendida veremos a imagem de um escarvo como elemento perigoso, inimigo doméstico, sempre pronto a atacar seu senhor ou a fugir, mas por oiutro lado o mesmo é um elemento passivo e resignado a espera das ordens e punições de seu senhor.
Mulheres conquistando espaços no Brasil império?

“além dos ex-escravos, pobres nacionais e índios, também as muleres mereceram um lugar nesses discursos de reconhecimento do potencial de braços a ser incorporado ao mercado de rabalho e a sociedade... Nísia Floresta Brasileira Augusta Faria, nascida no Rio Grande do Norte e estabelecida no Rio de Janeiro desde 1838, como proprietária de um colégio para moças destacou-se como uma das primeiras feministas dopais. Suas críticas em relação a criação das meninas ricas como objeto de luxo tolos e inúteis, bem como a defesa do aproveitamento das pobres no mercado de trabalho, revelam um esforço militante em prol da afirmaão da mulher como ser social, tão atuante e necessário em termos produtivos quanto o homem” (8)

neste caso ao que se refere as nacionais pobres temos apenas uma continuidade de suas práticas, visto que a escarva já era obrigada a trabalhar, p´rimordial seria elaborarum discurso a fim de que estas, uma vez libertas não se entregassem à ociosidade, já no que se refere às mulheres ricas, seguia-se o ideal progressista, em que todas “as engrenagens desta grande máquina deveriam está em sintonia”, ou seja, esta foi pensada como elemento decisivo para a formação de uma sociedade positiva seguindo o modelo europeu, em que a mulher já exercia uma dupla jornada de trabalho, dentro e fora do lar.

CAMINHANDO PARA O PROGRESSO? (9)

“... já para se alcançar este ideal era necessário partir de uma situaão de ordem que cnrolasse a crise, evitando o desregramento da população e o caos ttal. Este período de ordem, de cise controlada ou contornada, esprimia-se pela idéia de passagem do velho Brasil, o Brasil colonial de senhores de escravos, para o novo Brasil, aquele em que as leis de mercado, livremente e em igualdade de condições (jurídicas), as relaões entre patões e empregados”. (10)





(8) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág.57
(9) a PALAVRA ‘Progresso’ nesse contexo pode ser entendida como movimento para a frente, segundo o dicionário KOO GAN/HOUAISS, 1998 Ed. Delta
(10) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág59-60.











Neste contexto, através da análise de Célia temos a identificaão de uma carência básica apontada por quase todos os autores, que é o conceito de nacionalidade, para assim resultar em uma populaçãoplenamente identificada com a idéia de pátria, e por cponseguinte de sociedade brasileira. Esta teoria carregava em suma a disciplinarização do ex-escravo, seus descendentes e pobres nacionais em geral, no intuito de prpor os remédios para os males do Brasil e sua crise.

IMIGRANTES: ARAUTOS DO PRORESSO?

“... em decorrência ao assumirem a idéia da inferioridade racial de grande parte da população brasileira, estes autores inclinaram-se a tratar da transição para o trabalho livre quase que exclusivamente do ângulo do imigrante, já que consideravam os negros e mestiços incapazes de interiorizar sentimentos civilizados sem que antes as virtudes étnicas dos trabalhadores brancos impregnassem, quer por seu exemplo moralizador, quer pelos cruzamentos inter-raciais”. (11)

Já que neste imaginário o nacional era símbolo de atrazo, temos em 1866 a fundação da Sociedade Nacional da Imigração, a fim de propiciar a substituião da mão-de-obra escrava pela branca européia, o embranquecimento da sociedade brasileira e por conseguinte o tão almejado progresso.
Mas será que os europeus correspondiam a todas estas expectativas? Ou tratava-se apenas de uma construção ideológica?
O tão freqüente termo negro-não-civilizado”, não obedecia a conotação que seria ‘aquele que vive na cidade’, visto que mesmo os escravos citadinos também recebiam a mesma rotulação, então concluímos que negro-não-civilizado era igual a não observador de valores cristãos, não racional, indomável quando organizados em bandos, imprevizível, inferior e entregue à ociosidade, em suma não branco, atributos estes verídicos ou não estavam presentes neste imaginário, em cntrapartida à imagem do europeu civilizado, que era sinônimo de branco, ou seja, racional, superior, cristão e trabalhador.
Segundo Pereira Barreteo é necessário a implantação de políticas para assegurar condições favoráveis à imigração européia, tais como a separação da religião do estado, a grande naturalização, o casamento civil, a secularização dos cemitérios, a elegibilidade dos não católico. Sem isso e mais um severo controle social entre os negros não seria possível conseguir a simpatia e benevolência da Europa e assim atrair uma grande corrente imigratória.
Não bastaria somente o clareamento da pele, a transfusão teria de ser perfeita, não serviria desta forma o índio, tampouco o chinês. Ouve até que defendesse

“...que os descendentes dos africanos fossem cruzando sucessiva e sistematicamente com os brancos (europeus), o autor garantia que como resultado o pais teria homens forte, inteligente e altivos, além disso um restinho de sangue negro mais precisamente um oitavo dele até teriam suas vantagens, pois conforme assegurava a febre amarela e as afecções paludosas respeitavam a raça mestiça”. (12)

(11) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág 62
(12) Azevedo cita D. Jaguaribe, algumas palavras, Opus Cit, página 42




DISTRIBUIÃO DOS CONTINGENTES IMIGRATÓRIOS POR PERÍODOS DE ENRADA
(MILHARES)


PERÍODO
PORTUGUESES
ITALIANOS
ESPANHÓIS
JAPONES
ALEMÃES
TOTAL
1851 a 1885
237
128
17
-
59
441
1886 a 1900
278
911

187
-
23
1398


“ O contingente imigratório europeu integrado na população brasileira é avaliado em cinco milhos de pessoas, é composto principalmente por i, 7 milhão de portugueses que vieram se juntar com os povoadores dos primeiros séculos, seguido de 1,6 milhão de italianos, 700 mil espanhóis, 250 mil alemães, 230 mil japoneses e outros contingente menores, principalmente eslavos introduzidos no Brasil, sobretudo entre 1886 a 1930”. (13)









(13) ver RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo, 2201. CIA da Letras.


UMA MESMA REALIDADE E UMA DIVERSIFICADA FORMA DE ANALISÁ-LA

Muitas são as análises que até o momento foram feitas a cerca do processo de transição entre o trabalho escravo no Brasil para o trabalho livre remunerado. Algumas dessas análises foram feitas de forma mais minuciosa (14), enquanto outras se limitaram a apenas apresentar de forma mais superficial o complexo processo de transição (15).
Procederemos com uma breve, porém sistemática, apresentação das linhas mestras do pensamento de COSTA, NABUCO, DOMINGUES e AZEVÊDO, acerca da motivações e posteriores conseqüências desse processo que até hoje não admite consensos.





(14)Como o trabalho de AZEVEDO, “Onda negra, medo Branco” e DOMINGUES, em “Uma História Não Contada: negro, racismo e branqueamento...”
(15)Como o fez COSTA, em “Da monarquia à república”




NABUCO E O PÁTERNALISMO BURGUÊS EM RELAÇÃO AOS NEGROS ESCRAVOS


Uma das críticas que mais se faz ao abolicionismo de Joaquim Nabuco é que além de assumir uma postura de falso paternalismo em relação aos negros escravos, ele representa a defesa dos ideais burgueses, que, longe de promoverem a abolição por motivos de humanidade, estariam bem mais preocupados com o que a Europa pensava em relação ao Brasil, uma vez que este país ainda insistia em manter uma forma de produção já tida como obsoleta. Esta crítica a Nabuco pode ser percebida tanto em Domingues quanto em Azevedo.
De fato ao lermos “O Abolicionismo” percebemos claramente a preocupação do autor com a opinião pública européia. Além disso, na concepção de Nabuco, a escravidão era um grande empecilho ao desenvolvimento do país, atravancando o seu crescimento e progresso. São suas as palavras:

Queremos acabar com a escravidão por esses motivos seguramente, e mais pelos seguintes:
1. por que a escravidão, assim como arruína economicamente o país, impossibilita o seu progresso material... (16)

Então, além da abolição, quais as propostas de Nabuco para superar os entraves do “progresso material do país”? ainda segundo “O abolicionismo”, fica claro que para Nabuco a imigração européia e a miscigenação seria um grande passo em direção ao progresso, uma vez que as raças superiores transmitiriam às inferiores as suas características positivas. Apesar de em alguns momentos Nabuco afirmar que para os abolicionistas o negro não era considerado raça inferior, ele não consegue esconder as suas idéias eurocêntricas, o que só confirma as críticas atuais feitas as suas verdadeiras intenções com o abolicionismo.
Outra questão que se impõe às idéias de Nabuco, e que ultimamente tem sido muito abordada pelos movimentos negros organizados, pelos estudiosos da história dos negros no Brasil e pelos negros intelectualizados é a postura que o autor assume diante do negro. Já no início da obra Nabuco apresenta o negro escravo como uma classe social desprovida de consciência da sua condição e incapaz de reivindicar os seus direitos, sem a mediação do movimento abolicionista (17).
Mas alguém poderia argumentar: mas o próprio Nabuco, imediatamente após apresentar o negro como incapaz de reivindicar seu direitos afirma não ser o negro (para o movimento abolicionista) “uma raça inferior, alheia à comunhão ou isolada desta”. Sim realmente Nabuco afirma isso, mas o que parece mais é que em alguns momentos o autor se contradiz, tanto nos seus propósitos quanto nas suas concepções. Se não, como explicar tais palavras do mesmo autor:

... por que a escravidão (...) excita o ódio entre as classes (18)
(16)O abolicionismo, p. 81
(17)Idem, p. 13
(18)Idem, p. 81






Isso depois de ter afirmado que:

A escravidão, por felicidade nossa, não azedou nunca a alma do escravo contra o senhor – falando coletivamente – nem criou entre as duas raças o ódio recíproco que existe naturalmente entre opressores e oprimidos (19)

Contradição? Estaria o autor tentando justificar as sua atitudes paternalistas em relação ao negro cativo?







(19)Idem, p. 16

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