domingo, 23 de agosto de 2009

"A moda é Black" O adolescente afro-descendente paulista e o dilema entre os diferentes estereótipos do negro.


"A moda é Black"
O adolescente afro-descendente paulista e o dilema entre os diferentes estereótipos do negro
Antonio Pereira dos Santos*

Palavras chave: Educação, preconceito, racismo, diversidade, negritude.




Desde que comecei a lecionar nas escolas públicas da rede Estadual de Ensino em São Paulo, mais precisamente na região periférica da cidade de Taboão da Serra, onde se percebe claramente uma grande incidência de afro-descendentes, um fato me chamou a atenção: entre esse grupo de alunos podia-se perceber claramente a convivência de diferentes estilos de negritude. A diversidade ia desde aqueles que assumiam o estereótipo do negro brasileiro (um tanto despreocupado com a sua negritude, ou mesmo tentando mascará-la), até àqueles que se aproximavam mais do estereótipo norte-americano (cujo estereótipo às vezes assume um caráter peculiar de assunção total da sua condição, o que se reflete através das vestimentas, da forma de arrumar o cabelo etc., e às vezes assume a situação oposta, ao tentar velar a sua negritude através de um estilo que inclui "esticar" o cabelo, entre as meninas ou utiliza-los de forma semi-raspado, entre os meninos). Ao se tratar dos estilos intermediários pude perceber os "jamaicanos", assim como eles mesmos costumam se auto-denominar. Este último trata-se de um estilo que se aproxima mais do estilo do cantor Bob Marley, que divulgou o ritmo afro-jamaicano do Reggae pelo mundo, influenciando inclusive boa parte da juventude americana.

* Licenciado em História pela Universidade Bandeirante de São Paulo. É professor de Educação Básica II (PEB II) na Rede Estadual de Ensino em São Paulo-SP.

Com o passar do tempo, à medida que conhecia melhor meus alunos, fui percebendo também que, da mesma forma que o corpo desses afro-descendentes (através dos seus estilos de roupas, cabelos e comportamentos) revelavam uma convivência nem sempre pacífica com diferentes esteriótipos do negro, da mesma forma essa diversidade também se refletia nos estilos de música apreciados por eles. Geralmente os estilos mais apreciados variavam entre o Reggae, Rap, Funk e sumariamente o Black. Entre esses estilos, pude perceber em uma conversa com um aluno que o black, nos últimos anos, tem se imposto como um traço inconfundível da maioria dos afro-descendentes de nossas escolas.
Durante uma aula em que elucidava questões como racismo, violência e repressão policial contra negros, através de uma música do grupo paulistano Racionais Mc's, fui alertado por um aluno de que o Rap "já havia saído de moda" e que agora "A moda era Black". Esse episódio me fez pensar com mais cuidado sobre essa tendência muito forte de adolescentes e jovens brasileiros se identificarem tão fortemente com culturas afro-americanas em detrimento das afro-brasileiras.
Em minhas reflexões e prática pedagógica, passei a me perguntar o porquê desses adolescentes se orgulharem tanto de se assemelharem a Bob Marley, a cantores de black, ou integrantes do movimento Hip-Hop norte americanos, se distanciando consideravelmente de uma identidade negra brasileira, à moda, por exemplo, de grupos musicais ligados à presença dos povos bantos no Brasil, como os grupos baianos Timbalada, Olodum, Ilê Aiê etc. Entre as perguntas que eu me fiz repetidas vezes estavam a seguintes: o que afasta esses adolescentes do estilo afro-brasileiro de ser? E por que preferem se assemelhar aos negros norte-americanos? Depois de algumas conversas, observações e entrevistas informais, passei a confirmar o que já suspeitava: a aproximação com o estereótipo de negro norte-americano, na verdade camuflava uma tentativa de fuga dos estereótipos e estigmas do preconceito racial tão presente em nosso cenário social brasileiro.
Dessa forma, o comportamento desses adolescentes, seja em seus estilos culturais, seja nas suas preferências musicais, terminavam se explicando através da não identificação com um estereótipo de negro marcado por um forte discurso de natureza racista, fundamentado inclusive em teorias pseudo-científicas em relação á pretensa inferioridade do negro.
Muito já se falou das peculiaridades do racismo à brasileira (RUY:2007). Estas mesmas peculiaridades que associam o negro à indolência, feitiçaria e ao atraso, terminam levando jovens afro-descendentes mesmo que de forma involuntária e inconsciente a tentativa de fugir desse estigma, buscando em outros modelos de negros "que deram certo" a identificação que não conseguem encontrar nos discursos sobre o negro que percebem no Brasil. Até mesmo por que para o adolescente da escola pública das periferias das grandes cidades como São Paulo, assumir a sua negritude com decisão pode significar também ter que assumir o peso do preconceito racial que em alguns ambientes escolares ainda é cruel e explícito.
Um caso emblemático de descrição das inúmeras situações de discriminação racial na escola é o trabalho da professora Eliane Cavalleiro, Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. Ali a professora, depois de uma séria e acurada pesquisa numa escola pública de São Paulo, pôde perceber e descrever com propriedade a dificuldade de alunos, sejam crianças ou adolescentes que de uma forma ou de outra assumem a sua condição de negro na escola.
Para esses adolescentes negros então, fica mais fácil assumir uma negritude "norte-americana", e isso se dá de diversas formas entre esses adolescentes, do que assumir a condição de afro-brasileiro, tendo assim que arcar com as conseqüências de ser associado a uma visão preconceituosa e racista em torno do negro, como acontece até hoje no Brasil.
Esse tipo de comportamento entre os nossos adolescentes afro-descendentes nos leva a concluir que está em jogo uma questão de imaginário em relação ao negro. O conflito vivido por jovens e adolescentes brasileiros ao terem que escolher entre diferentes "estilos de ser negro" aponta na verdade para diferentes idéias que se tem do "ser negro". De forma objetiva, poderíamos dizer que, basicamente esses jovens vêem diante de si dois grandes extremos ou modelos de ser negro: o negro brasileiro, visto pela maioria da população como aquele que "não deu certo", ou seja, depois da abolição não foi absorvido pelo mundo do trabalho assalariado e terminou marginalizado. E o modelo de negro norte-americano, que mesmo tendo sido explorado como escravo nas grandes plantações de algodão no sul do país, após muita luta, conseguiu se emancipar e inserir-se no cenário social, político e econômico, e que, portanto "deu certo". É escusado dizer que no momento de suas vidas em que esses adolescentes necessitam de paradigmas que consolidem a sua personalidade em formação, o segundo modelo se apresenta como o mais viável e confiável. O que explica o comportamento dos jovens ao preferirem o ritmo musical black norte americano ao Olodum baiano, o Samba carioca ou mesmo ao rap paulistano (apesar de este último também ter suas origens nos Estados Unidos).
Não obstante as grandes iniciativas de pesquisadores e estudiosos da questão do negro no Brasil como Marina de Mello e Souza, Kabengele Munanga etc. Muito ainda tem que ser feito para se chegar a um nível de mudar a consciência dos adolescentes e jovens brasileiros acerca da importância de se assumir a condição de negro no Brasil e de se combater as inúmeras formas de preconceito racial que atinge boa parte da população negra no nosso país. Temos que admitir que a Lei 10.639 é, inquestionavelmente um passo, assim com as políticas afirmativas também o são. No entanto muito ainda se tem a fazer.
Uma de nossas tarefas como educadores é justamente esclarecer aos nossos alunos que a diversidade étnica e cultural, tão presente no Brasil é na verdade uma das nossas maiores riquezas. Esta claro também que, diferentemente do que se afirmou em tempos passados, a tão famosa "democracia racial" não passa de um mito, enquanto que a miscigenação no Brasil se procedeu de uma forma extremamente violenta, como atesta o próprio Darcy ribeiro (RIBEIRO:2001). E como o processo civilizatório foi violento, a mesma violência se observa nas relações sociais entre aqueles que se afirma como afro-descendentes e aqueles que ainda insistem em não reconhecer a natureza pluriétnica da população brasileira Nesse sentido a implementação da Lei 10.639 pode constituir para todos nós a possibilidade de se combater formas já cristalizadas de preconceitos contra o negro ao mesmo tempo que quitamos uma dívida secular com a população negra que tanto contribuiu e contribui com a construção desse país, desse povo que somos nós e dessa cultura tão rica que é a nossa. Nesses termos temos que assumir, juntamente com o próprio Darcy Ribeiro, que o negro se misturou tanto com o brasileiro, ao longo do processo civilizatório, que hoje o negro já não é mais o negro, mas o negro, somos nós. Com isso queremos dizer que ao contarmos a História da África e da Cultura Afro-brasileira nas salas de aula, como prevê a Lei em questão, na verdade estaremos contando a nossa própria história. E dessa forma já não haverá espaço para conflitos de escolhas entre "estilos de negro", ou mesmo não haverá mais espaço para se optar por esse ou aquele modelo de negro, pois a "nossa forma de ser negro" já estará completamente identificada e assumida. Desta forma, nossos alunos já não serão mais ideologicamente conduzidos à assimilar uma tendência norte-americana tão distante de sua realidade, pois haverá espaço suficiente para todas as formas e manifestações culturais, sem que uma implique na superação ou supressão da outra.

Palavras chave
Educação, preconceito, racismo, diversidade, negritude.

Referências Bibliográficas

CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO/CONSELHO PLENO/DF
Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 23001.000215/2002-96. CNE/CP 3/2004, aprovado em 10/03/2004. Proc. 23001000215/2002-96.

FONSECA, Maria Nazareth Soares. (Org.) Brasil Afro-Brasileiro. Autêntica. Belo Horizonte, 2001. 352p.

RAMOS, Artur. As Culturas Negras no Novo Mundo. Col. Brasiliana, Vol. 249. Editora nacional. São Paulo, 1979. 248p.

MUNANGA, Kabengele. & GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. Global. São Paulo, 2006. 172p.

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil Africano. Ática. São Paulo, 2006. 175p.

CAVALLEIRO, Eliane dos Santos. Do Silêncio do Lar ao Silêncio Escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. Editoras Humanitas/FFLCH-USP e Contexto. São Paulo, 2003. 110p.

FRANCA, Edson; RUY, José Carlos & VIEIRA, Manoel Julião. (Org.). Um olhar negro sobre o Brasil: dezoito anos de UNEGRO. Ed. Anita Garibaldi. São Paulo, 2007. 158p.

SILVA, Vagner Gonsalves da. Intolerância Religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. EDUSP. São Paulo, 2007. 328p.

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. CIA das Letras. São Paulo, 1995. 476p.


História de Israel









INSTRUÇÃO PREPARATÓRIA
PARA OBREIROS, PROFESSORES DA ESCOLA BÍBLICA E ASPIRANTES DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS – MIN. DO BELÉM/ SETOR 50.


DISCIPLINA:
História de Israel
Profº Antonio Pereira dos Santos

I/2009







SUMÁRIO

Apresentação, 3
Prefácio, 3
Cronograma de aulas ,3
Introdução ao Mundo Antigo, 4
O Oriente Antigo, 5
O Êxodo, 7
A Tomada da Terra, 8
As 12 Tribos, 9
Os Reinos, 9
Quadro Cronológico da História de Israel, 11

Bibliografia, 12

Anexos, 13


Agradecimentos, 15





Apresentação

Muito longe da pretensão de apresentar uma visão geral da história de Israel, está a confecção deste simplório panorama de estudos que pretende oferecer ás pessoas que possuem um conhecimento mínimo dos escritos bíblicos um conhecimento pouco mais abrangente para a interpretação dos eventos históricos, bem como compreender o processo que envolve a pré-história de Israel , sua formação como estado, auge e decadência. O autor desta, é professor das disciplinas de História, Geografia e Sociologia, sendo que a mesma estará impregnada com os conceitos, conteúdos e métodos professados por tais disciplinas.

Prefácio

Investigar o passado é um assunto que por si só, desperta grande interesse para a humanidade, no entanto, esta investigação deve ser conduzida com muito cuidado, a fim de reduzir os equívocos que freqüentemente surgem nas tentativas de olharmos para traz. É importante ressaltar que o passado já se passou e jamais retornará, quando olhamos para traz, na verdade estamos olhando através de um espelho, nossos olhos estão direcionados para frente, para o futuro, e com eles nosso imaginário amplamente cristalizado pela cultura que nos é própria, e esta mesma cultura torna-se o principal empecilho, que não nos possibilita enxergar no espelho mais do que pequenos fragmentos codificados, volto a ressaltar que o passado em sua totalidade jamais voltará, mas poderemos aos poucos e com muito cuidado juntar as peças deste grande quebra-cabeças para ampliar nosso foco de visão.



Cronograma das Aulas:

1. Apresentação do Curso, Metodologia e Objetivos
2. Introdução ao Mundo Antigo
3. O Oriente Antigo
4. O Êxodo
5. A Tomada da Terra
6. As 12 Tribos
7. 8, 9,e 10 Os Reinos
11 e 12.Revisão e avaliações de aproveitamento.



Introdução ao Mundo Antigo
* Antonio Pereira dos Santos


A história da humanidade convencionalmente está divida em:
Pré-história (antes de 4.000a.C)
Idade Antiga (de 4.000a.C á 476d.C)
Idade Média (de 476dc á 1453d.C)
Idade Moderna (de 1453 á 1789d.C)
Idade Contemporânea (de 1789d.C até os dias de hoje)



A partir de 4.000 anos antes de Cristo a humanidade encontra-se em um estágio de evolução bem avançado, sendo que se dá nesta época a descoberta da escrita que possibilita ao homem registrar sua própria existência de forma mais precisa. Nasce á partir de então o complexo conceito de nação, que é uma comunidade natural de homens que, reunidos num mesmo território, possuem em comum a origem, os costumes e a língua.
A tradição comum de cultura, origem e raça, somado a consciência do grupo humano de que esses elementos comunitários estão presentes, é fundamental para a existência da nação, que une em seus membros, mais do que a identidade de idioma ou a convivência num mesmo território, é o vínculo puramente moral ou psicológico representado por um destino comum, forjado na história da formação da nacionalidade, que define que todos os homens pertencentes ao grupo estão unidos não apenas porque seus antepassados também o estiveram, mas porque assim o querem permanecer no presente, para atingir os objetivos comuns no futuro (á cima figura em argila de Hamurabi, Imperador do 1º Império Babilônico mencionado no livro de Gênesis cap.11 com o nome de Ninrode).
Este conceito de nação com o decorrer do tempo evoluirá para conceito de Estado que é um conceito extremamente político que assimila os indivíduos congregados em determinado território sob um governo comum.
Esta compreensão proporcionará os grandes aglomerados de povos que mais tarde chamaremos de Impérios.
Por sua vez, os mecanismos de troca e de acumulação de excedentes resultarão no conceito de dinheiro, e somado a tudo isto, temos o homem já sedentarizado dominando práticas primitivas de agricultura e pecuária, e uma vez agrupadas estas práticas geraram um excedente que propiciou a construção e consolidação de grandes cidades, templos e palácios luxuosos, tal como o desenvolvimento das ciências e etc.

Entre outros, podemos citar 7 grandes impérios da Antiguidade:

Egípcio: Governado pelos Faraós
1º Babilônico: Destacando-se Hamurabi
Assírio: Principal Imperador Senaqueribe
2º Babilônico: Destacando-se Nabucodonosor
Medo-Persa: Destacando-se Dario o Medo e Ciro o Persa
Macedônico: Destacando-se Alexandre o Grande
Romano: Governado pelos Césares


Os Impérios nas citações bíblicas:

Egípcio: Gênesis cap. 39 ao 50; Êxodo cap. 01 ao 14
1º Babilônico: Gênesis cap.11.
Assírio: Isaias cap. 36
2º Babilônico: Jeremias cap. 27 ao 30; Daniel cap. 01 ao 05, Judite cap. 01, Baruc cap. 01
Medo-Persa: Daniel cap. 06 ao 11; Isaias cap. 45
Macedônico: Daniel cap. 12; 1 Macabeus cap. 01
Romano: Todos os Livros do Novo Testamento

O Oriente Antigo
* Antonio Pereira dos Santos


Compreendemos como Oriente antigo as civilizações Egípcia, Hitita, Assíria, Mitanni e Babilônica e as diversas tribos Proto-árabes que habitavam a região que no período Romano foi chamada de Palestina, estes povos estavam geograficamente localizados junto ao Rio Nilo, na Mesopotâmia e na Ásia Menor, que por volta do segundo milênio antes de Cristo deram início a um sistema de Impérios cujos interesses gravitavam na esfera de dominação política.
O emprego de uma nova tecnologia de guerra possibilitou aos egípcios saírem na frente nesta disputa de domínios, a utilização de cavalos atrelados a carros de guerra, possibilitava vencer qualquer exército da época ( cerca de 2.200 anos antes de Cristo), o cavalo neste momento representava um luxo exacerbado, parece ser originário do sul da Rússia e foi levado para a região do
Nilo por Tribos nômades.
O Desenvolver de técnicas de produção e de guerra proporcionou a ascensão posterior dos Mitannis, Assírios e Babilônios impondo certo equilíbrio diplomático.

Neste cenário de disputas territoriais e políticas nasce o povo Hebreu, que diferentemente dos demais povos do Oriente antigo, não possuía até então um território tradicionalmente delimitado, nem uma “cultura peculiar”, antes porém, os hebreus eram a mistura das culturas Siro-palestinense, Proto-árabe e egípcia.

Palco de constantes guerras, esta região consagrou-se como o berço das civilizações antigas, nos permitindo entender à saga guerreira da nação que ficou conhecida como ‘povo de Deus’.
No Oriente Antigo teremos com os Fenícios a técnica de Marinha mercante , o nascimento da escrita (Alfabeto) e noções de números e contagem, assim como o primeiro código de conduta ético-moral Sacrifício de Isaque.
utilizado no ambiente jurídico ( o código de Hamurabi). No Egito desenvolver-se-á a medicina , a engenharia e a guerra fechando o elo de conhecimentos necessários para reger os mega impérios peculiares da região.

Antes de qualquer coisa, no Oriente antigo encontramos um terreno fértil para as religiões,nele nascerá a teoria mitológica da criação mais conhecida e aceita de todos os tempos ( Gênesis 1), e o código social que ainda hoje rege gerações: a Bíblia Sagrada.


O patriarca Abraão era originário de Ur dos Caldeus (Gên. 12), região que estava sob o domínio Babilônico, e na pessoa do Imperador Hamurabi, lhe será concedido credenciais de cidadania Babilônica, e estas credenciais lhe garantirão o respeito e benevolência necessários em todos os reinos que este visitou; entre seus descendentes, temos os Árabes que descendem de Ismael (filho da escrava Agar- Gên. 16) e Israel que nasceu de Isaque (filho da esposa Sara – Gên.21).
Esta família se tornará volumosa com a violação de Diná (Gên.34), filha de Jacó por um príncipe de Siquém, que resultará no massacre de todos os homens desta cidade, e posteriormente no Egito sob a tutela de José (Gên.46), os filhos de Israel se multiplicarão á ponto de incomodar a estabilidade política do faraó iniciando o período de luta pela libertação do povo.


O Êxodo
* Antonio Pereira dos Santos
Israel antes da liderança de Moisés não passava de um aglomerado de tribos que viviam na condição de escravos no Egito, e não possuíam um território geograficamente delimitado, nem estrutura política significante, e semelhante a eles existiam centenas de outras tribos nestas regiões, que em sua maioria possuíam laços de parentesco entre si.

O período de Moisés é o momento em que Israel deixará o anonimato, para entrar para a história definitivamente. Moisés representava um grupo de patriarcas conservadores e extremamente radicais, e justamente este radicalismo será o diferencial de Israel.

Moisés e os 10 mandamentos.

Os povos do Oriente antigo tinham de alguma forma certo parentesco, e este parentesco resultava não só na proximidade da língua e cultura, mas também na proximidade de práticas religiosas, é possível perceber isto no ocorrido com Melquisedeque e com Balaão.

Segundo a analogia de textos bíblicos a região foi partilhada pelos filhos de Noé (Gên. 9), sendo que a região da Mesopotâmia foi habitada pelos filhos de Sem, a parte noroeste foi habitada pelos filhos de Jafé, e a parte que abrange a Palestina e Egito, povoado pelos filhos de Cam.

O Período de Moisés representará á cima de tudo a “Justiça de Javé na Terra” por isso o termo “Lei de Moisés” que encerra um período em que “não havia lei (pelo menos de forma radical) entre os filhos de Israel”, assim Moisés será a esperança capaz de proporcionar a Israel sua Religiosidade, sua cultura e sua identidade Político-Nacional.
Parece ser ele quem escreve o 1º livro da Bíblia (Jó) , compila toda a tradição oral da Criação do Mundo e do Ser Humano, traça árvores genealógicas dos patriarcas, e menciona os pontos importantes das sociedades até seu tempo. Criado no Palácio de Faraó, Moisés foi um dos personagens mais Ilustres e Mais Inteligentes de seu tempo, não é de se espantar que tenha sido autor de 6 dos mais importantes livros do velho testamento, são eles:

Jó: Sabedoria e Paciência
Gênesis: O Início
Êxodo: A Saída
Levítico: Instruções Sacerdotais (Levitas)
Números: Recenseamento
Deuteronômio: 2ª Lei ou Revisão da Lei

Viveu aproximadamente 120 anos, sendo os primeiros 40 no palácio de Faraó ( Ex 2), sendo instruído em toda a ciência da época, os próximos 40 anos em pleno anonimato no deserto (Ex 2:11) na casa de seu sogro Jetro, e os últimos 40 anos de sua vida, este enfrentará o Faraó do Egito, libertará o povo cativo e mais importante do que ter tirado o povo do Egito, conseguirá no deserto tirar o Egito de dentro do povo, formando assim o povo separado (santo) que Javé prometera a Abraão,a peregrinação no deserto será marcada por muitos eventos sobrenaturais, como o abrir do mar vermelho (Êx.14), o misterioso Maná diário (Ex. 16) e etc.
Tratará de normatizar e padronizar a religião e as regras de conduta sócio-moral, instruindo inclusive o povo a observar regras básicas de higiene, no evento do Monte Sinai escreverá o 1º Salmo da Bíblia (Êx. 19), o Salmo 91; não receberá de Javé a permissão para adentrar a Canaã e por causa disso escreveu o Salmo 90 “ ...Senhor ensina-nos a contar os nossos dias...”


A Tomada da Terra
* Antonio Pereira dos Santos

Após a morte de Moisés, assume a liderança de Israel o príncipe de Tribo de Efraim conhecido como Josué que tinha aproximadamente 80 anos de idade,e há muito tempo já havia provado seu valor no episódio dos 12 espias enviados por Moisés (Nm.13), dos quais retornaram apenas dois espias com boas noticias (Josué e Calebe).



A era de Josué (Js.1) é um novo marco na História de Israel, pois é neste período em que se dará a posse da terra prometida; Canaã emanava leite e mel, no entanto estava entregue aos diversos povos descendentes de Cam, que em certo episódio foi amaldiçoado por seu pai Noé (Gên.9:25), a maldição previa que este seria servo e escravo de seus irmãos, de forma que, ao possuir a terra de Canaã, os filhos de Israel que descenderam de Sem (o filho abençoado) parece materializar a maldição de Noé sobre o filho incoerente.

O momento da tomada da terra (Js. 6) , foi para Israel um glorioso nascimento como nação, algo que em pouco tempo proporcionou o respeito dos povos visinhos, mas o que vale ressaltar que o ponto principal para que Israel desabrochasse como nação foi entre muitos fatores, sua religiosidade.
Como um povo relativamente pequeno, sem profundidade de estrutura política, sem grandes experiências de Guerra e sem qualquer acordo diplomático com nenhuma potência da época e desprovido de riquezas, pode vencer Amoreus, Moabitas, Filisteus, Jebuseus,Ferezeus entre tantos outros, que já estavam estabelecidos na terra? E no caso de Jericó, envoltos por uma majestosa muralha?

O Livro de Josué, primeiro de 12 livros que contaram a História de Israel se distingue pela política de disputa territorial e pelas práticas de guerra pouco comuns para a época, ex: as 13 voltas jubilantes ao redor de Jericó (Js 6).



As 12 Tribos
* Antonio Pereira dos Santos

Houve entre os povos antigos um sistema bastante comum de organização político-federativa que se aproximava ao modo de produção asiática ou modo de servidão coletiva que no Egito e na Ásia eram extremamente radicais.

Mas o Oriente Médio parece ter adotado um sistema mais brando que é a aglomeração de tribos ou clãs, sempre obedecendo os números 6 ou 12, de forma prática, facilitava a distribuição de certas tarefas comunitárias, sendo que em cada mês do ano uma tribo estava responsável pelas tarefas de interesse da comunidade, tal como edificar muralhas,construir pontes, semear os campos pertencentes a federação e etc.
As 12 tribos de Israel derivam da família do Jacó que recebeu o nome de Israel, daí nasce a expressão “ filhos de Israel”, são eles:

Filhos da esposa Lia: Rubem, Simeão, Levi , Judá, Issacar e Zebulon;

Filhos da esposa Raquel (que ele amava) : José e Benjamim;

Filhos da escrava de Lia: Gade e Aser;

Filhos da escrava de Raquel: Dã e Naftali.

Um ponto muito interessante é a questão de que a tribo de Levi (da qual Moisés pertencia), talvez, por ter mais afinidade com a religião, ficou encarregada de cultivá-la e por isso não recebeu nenhuma terra, mas para obedecer à estrutura de tribos confederadas agrupadas em numero de 12 foi necessário dividir uma tribo, não existindo assim uma tribo de José e sim a divisão desta casa em duas tribos: Efraim e Manasses (os filhos de José).

Os Reinos
* Antonio Pereira dos Santos

Entre os séculos XII e XI a.C. os Israelitas ainda mantinham sua organização social baseada nas tribos confederadas mas independentes entre si. Após a Morte de Josué, nos momentos críticos constituíam-se um chefe local que recebeu o nome de Juiz.


Uma vez estabelecidos na terra, Israel almejava somente a paz, mas um turbilhão de violência iniciado pelos Filisteus, forçará Israel a estruturar-se politicamente, não mais em confederações de tribos independentes e sim em um estado único, neste momento, Samuel que foi o último dos juízes, incapaz de deter a vontade/necessidade do povo, unirá as tribos para o combate de um inimigo comum, para isso foi necessário criar uma autoridade supertribal: O Rei.

Um benjamita por nome Saul, saberá se sobressair nessas circunstâncias liderando o povo contra o exército Amonita (1SM 11), assim sua gestão será marcada pela formação de um exército profissional e se movimentará para a estruturação de Israel como estado único, que neste momento não tinha uma capital, nem palácio nem infra-estrutura necessária para centralizar e normatizar a cobrança de impostos, Saul começará a acumular terras reais, para isto seu exército precisará estar envolvido em constantes disputas, só assim será possível manter o exército ativo a avançar na consolidação do estado.

No exército de Saul, se destacará um jovem militar chamado Davi que liderou o exército por anos e em um determinado momento, deixará o exército oficial para montar seu próprio exército na Transjordânia, aproveitará o evento da morte de Saul e seu filho Jônatas para retornar a Judá, onde foi coroado rei.

Davi foi um político brilhante, já de início se encarregará de conquistar a primeira capital de Israel: Jerusalém, também conhecida como cidade de Davi, e assim construiu seu império subjugando e impondo impostos aos Edomitas, Moabitas,Arameus,Filisteus e Amonitas.


Houve quem suspeitasse da morte de Saul e seus descendentes, por isso Davi teve de enfrentar vários movimentos de rebeldia, o maior deles foi encabeçado por seu filho Absalão que conseguiu coroar-se rei em Hebron.

Do ponto de vista da religião, tomou algumas atitudes interessantes: trouxe a Arca da Aliança para a nova capital e nomeou o sacerdote chefe como funcionário da coroa e iniciou os preparativos para a construção do templo de Javé que se consolidou com seu sucessor Salomão.

Salomão dividiu o reino em 12 distritos com governadores responsáveis pelo levantamento dos tributos suficientes para a manutenção do aparelho do estado e a luxuosa obra da construção do templo de Javé. Além dos tributos de bens materiais foi instituído o tributo de trabalho forçado que se alternava de 3 em 3 meses, cumprindo-se o que havia dito Samuel: “vós mesmos vos tornareis seus escravos”(1SM 8:17).

No final do reinado de Salomão houve uma revolta encabeçada por Jeroboão, alto funcionário da administração responsável pelos distritos de Efraim e Benjamim, esta rebelião acabou em fracasso obrigando-o a se refugiar no Egito, com a morte de Salomão em 931 a.C. foi a oportunidade para o retorno de Jeroboão e retomada das reivindicações, este reuniu os príncipes das tribos e em audiência com Roboão (filho de Salomão) e deixou claro que para proclamá-lo rei seria necessário que retirasse do povo o fardo pesado imposto por seus pais as tribos.

Por sua vez, Roboão se nega a atender o pedido e é obrigado se refugiar em Jerusalém onde tinha o apoio da tribo de Judá e Benjamim, Jeroboão será coroado rei em Siquém com o apoio das 11 tribos restantes configurando assim a divisão do reino em Judá ao sul e o reino de Israel ao norte.


A Dinastia de Amri (884-841 a.C.)

Com a complexificação das estruturas políticas entre os povos da palestina, houve a necessidade de uma re-estruturação social,foi construída uma nova capital para a coroa (reino de Israel) que recebeu o nome de Samaria ( 1RS 16:24), os soberanos desta época precisavam de subordinados cegamente fiéis para a expansão de seus domínios, houve nos tempos de Davi uma tentativa frustrada de “domesticar” Javé , e sabendo que seria impossível fazer frente aos inúmeros sacerdotes e profetas que conduziam o povo, esta dinastia tentou afastar o povo de seu Deus (Javé).
Instituíram assim o culto a Baal á partir do casamento de Acabe com a princesa da Sidônea (Jezabel) que trouxe com sigo os sacerdotes e construíram um templo dedicado a este deus (1 RS 16:32).
Foi considerado como período negro na História de Israel este momento, e assim surgem os grandes profetas Elias e Elizeu.

A Dinastia de Jeú (841-752 a.C.)

Em auxílio ao povo, Javé envia profecias á Elias e Elizeu, e estas se realizam com o levante liderado por Jeú que destitui do poder a família de Acabe expulsa de Israel o culto de Baal, na perspectiva do povo, houve uma considerada melhoria de vida.

Manuscritos do Mar Morto
O reino de Judá que estava entregue ao esquecimento, depois de anos, aparece importantes profetas:
Isaias ,Oséias e Miquéias.

De 738 á 630 a.C. a Palestina esteve sob o domínio da Assíria ( ver Os.8 e Isaias cap. 36) e posteriormente teremos o Rei Josias como reformador, reestruturando Israel de forma religiosa de 640 á 609 a.C.

No entanto esta paz foi perturbada pelo período de hegemonia Babilônica ( de 605-539 a.C.) entrará em cena o Profeta Jeremias ( ver Jeremias cap. 27 ao 30; Daniel cap. 01 ao 05, Judite cap. 01, Baruc cap. 01) e Ezequiel (ver Ez.1) em Israel e o Profeta Daniel no seio da Babilônia.

Novamente, como auxílio ao povo, aparecerá os Persas ( ver Daniel cap. 06 ao 11; Isaias cap. 45) que exerceram seu poder de 539 á 332 a.C., este é o período de Esdras, Neemias, Ageu e Zacarias.

A passagem de Alexandre Magno na Palestina abriu a era de dominação Helenística (332 á 167 a.C. ver Daniel cap. 12; 1 Macabeus cap. 01)

A Insurreição Macabéia durará de 167 á 63 a.C. ( ver 1 e 2 Macabeus) e a tomada de Jerusalém pelo general Pompeu abrirá a Era Romana.



QUADRO CRONOLÓGICO DA HISTÓRIA DE ISRAEL


PERÍODO
ACONTECIMENTO
Séc XIV A.C.
ÊXODO DO EGITO
1.000 A.C
DAVI CONQUISTA JERUSALÉM
931 A.C
JEROBOÃO COM AS TRIBOS SE REVOLTAM CONTRA ROBOÃO
884-841 A.C
A DINASTIA DE AMRI (AMRI,ACABE, OCOZIAS E JORÃO)
841-752 A.C
A DINASTIA DE JEÚ (JEÚ, JOACAZ, JOÁS, JEROBOÃO II E ZACARIAS)
722 A.C
DESTRUIÇÃO DE SAMARIA PELOS ASSÍRIOS
640 – 609 A.C
REINADO DE JOSIAS (REFORMA)
597 A.C
DEPORTAÇÃO DE JOAQUIM A BABILÔNIA
586 A.C
DESTRUIÇÃO DE JERUSALÉM
520-515 A.C
RECONSTRUÇÃO DO TEMPLO DE JERUSALÉM
445 A.C ?
GOVERNO DE NEEMIAS
332 A.C
ALEXANDRE MAGNO CONQUISTA A PALESTINA
167-164 A.C
INSURREIÇÃO DOS MACABEUS
63 A.C
POMPEU CONQUISTA JERUSALÉM PARA OS ROMANOS
66-70 D.C.
GUERRA CONTRA ROMA (DESTRUIÇÃO DO TEMPLO)



BIBLIOGRAFIA

ATLAS DA BÍBLIA. Ed. Paulus, 1985.

BIBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, Trad. João Ferreira de Almeida, Rio de Janeiro, Ed. CPAD, 2002.

BIBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo, Sociedade Bíblica Católica/Paulus, 1985.

BIBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida, São Paulo, Ed.CPAD, 1995.

BIBLIA SAGRADA. Trad. Paulo Mattos Peixoto,São Paulo, Ed. Paumape, 1979.

CESARÉIA, Eusébio de. “ História Eclesiástica, os primeiros quatro séculos da Igreja Cristã”,Rio de Janeiro, Ed. CPAD, 1999.

COTRIM, Gilberto. “ História e Consciência do Mundo” ,São Paulo, Ed. Saraiva, 1994.

DONNER,Herbert. “ História de Israel e dos povos visinhos”,Petrópolis, Vol. 1, Ed. Sinodal/Vozes, 1997.

______________. “ História de Israel e dos povos visinhos”,Petrópolis, Vol. 2, Ed. Sinodal/Vozes, 1997.

FIGUEIRA,Divalte Garcia. “História Divalte”,São Paulo, Ed. Ática, 2005.

GAARDER, Jostein. HELLERN, V. NOTAKER,H. “ O Livro das religiões” ,São Paulo, Cia das Letras, 2000.

GRUEN,Wolfgang. “ O tempo que se chama hoje, uma introdução ao Antigo Testamento” , São Paulo-SP, Ed. Paulus, 1985.

JOSEFO, Flávio. “ A História dos Hebreus” , Rio de Janeiro, Ed. CPAD,1999.

MELLO, Luiz Gonzaga de. “ Antropologia Cultural- Iniciação teoria e temas”, Petrópolis, Ed. Vozes, 1982.

PIXLEY,Jorge. “ A História de Israel a partir dos pobres”, Petrópolis, 5ª edição, Ed. Vozes, 1998.

RAVASI, Gianfranco. “ Coélet, Pequeno comentário Bíblico do Antigo Testamento”, São Paulo, Edições Paulinas, 1993.

SAULNIER, Christiane. “ A Revolta dos Macabeus”, São Paulo, Edições Paulinas, 1987.

VICENTINO, Cláudio. “História Geral”, São Paulo, Ed. Scipione, 1997.


Anexos

Anexo 1- Oriente Antigo

Anexo 2 – A Divisão das Tribos

Anexo 3 – A divisão dos Reinos

sexta-feira, 19 de junho de 2009

“A TRANSIÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO PARA O TRABALHO LIVRE NO BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIAIS”

A partir das análises de Azevedo, Costa, Domingues e Nabuco.

Onda negra, medo branco
O negro no imaginário das elites –século XIX

Escravo, sklave, esclavo, esclave, slave ou schiavo.
Seja em português, alemão, espanhol, francês, inglês ou italiano, deparamo-nos com uma expressão muito próxima esteticamente, e vezes muito próximas também na representatividade do símbolo que a palavra se incumbe de carregar. Porém, a mesma remete-nos a contextos excepcionalmente diversificados, conservando apenas algumas características que chamamos de “pontos em comum”. Tais pontos em comum nos autorizam, à partir de então, a emitir um juízo de valor acerca do que é e do que não é Escravidão.
Por se tratar de uma idéia, ou um molde ideológico de longa duração, que permeou “quase” a totalidade dos séculos primitivos e civilizados, torna-se impossível tentar no plano literal explicar o que foi a Escravidão, visto tratar-se de um contexto social-ideológico, com peculiaridades específicas, em cada sociedade, e seu respectivo momento histórico. Assim sendo, longe da tentativa de um estudo aprofundado da “instituição Escravidão”, limitar-nos-emos a uma analise especifica do imaginário de um pequeno grupo, representante da elite social encontrada na província de S. Paulo no final do século XIX.
Para tanto teremos por suporte a obra de Célia Maria Marinho de Azevedo intitulada “Onda Negra, Medo Branco: o negro no imaginário das elites – Século XIX ”.
Ao iniciar tal análise se faz necessário tornar evidente a representatividade social que possuía este grupo, a quem chamamos de “elites”.
Por se tratar em sua grande maioria de herdeiros do pensamento português, e este ser, essencialmente, baseado no cristianismo católico; que por sua vez é herdeiro de um “judaísmo escravocrata”, deparamo-nos com a seguinte questão:
que representações davam suporte a este imaginário (escravista)?
A analogia nos leva a concluir que por se tratar de uma sociedade regida de muito perto por sua religiosidade, temos então uma divindade que legitima e regulamenta tal modelo social. Assim, uma vez cristalizado tal pensamento, chegamos próximos de um imaginário que admitia como “natural” a submissão de uma “raça inferior” a outra, tida como “superior”(1).
Respaldados nesse discurso, em um primeiro momento, temos a escravização de indígenas sob o pretexto de levar a civilização e a salvação aos ‘selvagens’.
E a partir de um determinado momento que vai de encontro aos interesses da Coroa Portuguesa vemos o posicionamento da Igreja, através da bula ‘Veritas Ipsa’, publicada em 1537 pelo papa Paulo III, em que condenava a escravidão dos aborígenes do novo mundo(2).
A partir de então temos a substituição desta mão-de-obra pelos africanos.

(1) Conceito comum entre os Gregos antigos e defendida por Aristóteles em sua obra “A Retórica”.
(2) Ver Arroyo.Leonardo, Novo Dicionário de História do Brasil,São Paulo 1970, ed Melhoramentos, pp255.







SITUAÇÃO VIGENTE E DESCONFORTO SOCIAL


Iniciemos agora esta discussão a partir do desconforto social vivido pela sociedade Brasileira por volta de 1860.
A autora, de forma brilhante, inicia sua análise com a seguinte Poesia:


“Homens! Esta lufada que Rebenta
É o furor da mais lôbrega Tormenta...
-Ruge a Revolução


E vós cruzais os braços ...Covardia!
E murmurais com fera Hipocrisia:
-É preciso Esperar...


Esperar? Mas o quê? Que a Populaça,
Este vento que os tronos Despedaça,
-Venha abismos Cavar”.

Castro Alves,
Estrofes do Solitário



Estas estrofes nos ilustram o assunto que foi palco de intensas e calorosas discussões acerca da preocupação deste grupo, em encontrar a resposta à pior das indagações:
O que fazer com os negros libertos?
De forma sensata e coerente, temos em sua obra o respaldo do subjetivo social que fica explicitado já no título, “Onda negra, medo branco”, apresentado respectivamente pelo enorme contingente que era a população escrava, inculta e irracional e que, por ser desta forma, ou por desta forma ser vista pela sociedade elitizada, gerou uma terrível inquietação. Cuja inquietação será explorada a seguir.
Temos então uma sociedade escravocrata, que está à beira de um colapso, representado, evidentemente, pela ruptura deste sistema escravista. Dessa forma, teremos a cúpula pensante desta elite se desdobrando para estancar esta sangria em potencial

“ Ao negro deformado pela escravidão e longe ainda de se integrar à sociedade de classes em formação coube apenas o papel de ‘elementos residuais do sistema social’. Este período da História social do negro na cidade de São Paulo resume-se a expressão ‘anos de espera’, em que a grande massa de negros , a margem da vida social organizada e de toda a esperança, sucumbe a própria inércia”. Nem mesmo as poucas exceções incluíram-se ‘entre os fatores mais vantajosa que a maioria dos negros’. Isto porque ‘eles não estavam nem estrutural nem funcionalmente ajustados as condições dinâmicas de integração e expansão da ordem social competitiva...’ portanto Fernandes conclui que a repulsão do negro pela cidade não se colocava em termos raciais...”(3)

Vemos então a ciência tentando legitimar o racismo a qual os negros eram submetidos, e a partir desta citação entramos em contato com um fragmento substancial deste imaginário, onde a autora nos sinaliza a imensa absorção desta elite à doutrina positiva.
Doutrina esta detentora de verdades essencialmente ‘convincentes’ e que fluíam de forma a desembocar em uma sociedade ‘progressista, ordeira e harmoniosa’.

(3)Célia citando F.Fernandes, A integração do negro na sociedade de classes,op.cit,pp.46-95
TEORIA DA SOCIEDADE POSITIVA E COMPLEXIFICAÇÃO DOS CONFLITOS


Embasados em tais teorias poderíamos por ventura relacioná-los à complexificação dos conflitos sociais existentes?
Recorramos à autora para uma tentativa de resposta.
Segundo a autora, neste período a sociedade brasileira se dividia em um grande contingente de escravos, alguns índios e pobres livres, uma burguesia em constante ascensão e a elite propriamente dita. Os primeiros, por sua vez, encontravam-se emaranhados em um ambiente “escravista, retrógrado e irracional”. Eram vistos pela classe dominante como a representatividade da escória social, sendo fácil a assimilação de seus efeitos e complexo ao ponto em que inquietamo-nos à identificar suas causas partindo do fenômeno em si.
O desconforto social, inicialmente citado, parece permear todas as camadas desta sociedade, visto o descontentamento dos escravos e os conflitos inerentes a este quadro, e por fim, a formulação de um discurso capaz de remodelar o imaginário das elites, com o intuito de re-elaborar a sociedade brasileira. Ou seja, identificamos neste período, o fim, ou uma descontinuidade de um paradigma que esteve estático por vários séculos. Inicialmente era necessário apenas uma mínima parcela de pensantes e uma grande proporção de mão-de-obra não critica. A partir de certo ponto, vemos a preocupação desta elite em construir uma sociedade irracional, onde todas as peças e engrenagens deveriam estar indiscutivelmente lapidadas nos mais diversos aspectos: morais, religiosos, étnicos e psíquicos, entre outros. Assim fica fácil compreender o símbolo criado por esta elite a fim de classificar e rotular a “populaça” negra e mestiça como incapaz de possibilitar, ou pelo menos auxiliar no processo de reformulação social, tornando-se assim como um grande entrave para o processo. E dessa forma não haveria outra opção senão desfazer-se do problema.
Compreendemos, em parte, que a busca do europeu jamais significou a busca de uma sociedade intelectualizada, e sim, uniforme e obediente aos padrões vigentes. Então percebemos um discurso que, na verdade, utilizou-se de subterfúgios para legitimar suas intencionalidades.
Em uma sociedade positiva que vislumbrava um doravante social equivalente a um grande relógio jamais encontraria espaço engrenagens “in-formes e ocas”, necessário seria introduzir no Brasil as bases incontestáveis de uma sociedade forte, civilizada, ordeira, progressista e harmoniosa: o imigrante europeu.
Este, contrário à deformidade da escravidão era detentor sobre tudo do alvo tão desejado: a racionalidade.
Uma vez cristalizado, pelo menos a grosso-modo, o discurso de que o nacional era incapaz de conduzir a nação ao progresso, surge um novo questionamento:
Porque a preocupação e busca incessante pelo progresso?
Possivelmente, como coloca a autora, pela fusão ideológica propiciada pelo avanço científico onde nasce um certo “darwinismo social”, para ir de encontro às teorias positivas, através das quais procura-se provar que a inferioridade do nacional devia-se às suas origens biológicas africano/português, desclassificando a ambos de seu ideário, e arremetendo sua inferioridade às legitimações científicas, questões essas típicas de períodos de transição e este em específico de um sistema pré - capitalista pára o capitalista no termo mais completo da expressão. Para este momento de transição Célia destaca quatro importantes personalidades:
- os escravocratas;
- os abolicionistas;
- os emancipacionistas;
- os imigrantistas;

Os primeiros defendiam a manutenção do sistema vigente, o grupo seguinte a ruptura ( ? ) do mesmo, e os próximos um certo ponto de fusão entre as anteriores, os últimos a substituição do escravo pelo branco europeu .

“... mas o alvorecer do século XIX trouxe dois grandes acontecimentos que influíram grandemente neste arraigado modo de vida escravista.
Por um lado o movimento emancipacionista tomava vulto nas ruas miseráveis, nos ricos salões e no parlamento da Inglaterra, determinando o inicio das pressões internacionais contra o secular tráfico de negros da áfrica para as colônias de além mar. O Brasil recém-independente herdaria por seu turno estas incomodas pressões da nação capitalista mais poderosa de então... (4)”

Esta citação traz, sem sombra de dúvidas, o módulo que ainda estava omisso; através do qual concluímos o porquê do desdobramento parlamentar, e extra-parlamentar, em difundir tais ideais, frutos de um interesse infinitamente maior do que sua realidade imediata, propriamente dita.Visando assim, obedecer aos interesses econômicos da verdadeira classe dominante: os ingleses. O Brasil parte então para sua almejada re-estruturação, a fim de satisfazer as expectativas aqui depositadas.

“o fato de maior relevância ocorrido na economia brasileira no último quartel do século XIX foi, sem lugar a dúvida, o aumento da importância relativa do setor assalariado...”(5)

Com esta afirmação entendemos que a instituição “Escravidão” sofre uma descontinuidade no sentido pleno do termo, devido a necessidade de uma re-formulação em suas bases político-econômicas, evidentemente gerada pela “febre” contagiante da Revolução Industrial inglesa.
Inicialmente, aparecem os projetos Emancipacionistas com o intuito de assimilação desta nova proposta para desembocar nos conceitos abolicionistas.
Tal leitura remete-nos a uma interpretação mecânica dos acontecimentos, reproduzindo assim a idéia de ação e reação/causa e efeito, que, às vezes carrega aspectos “verídicos”. Porém, ao se traçar uma meta de verossimilhança necessária será um maior desdobramento.
Fica então evidente, a grande preocupação com o destino da população brasileira


O “AMOR” AO TRABALHO E A IDÉIA DE UMA SOCIEDADE POSITIVA

“em 1820 um paulista formado em direito em Coimbra ofereceu uma ‘memória’ a D.João VI em que procurava chamar a atenção do soberano para a necessidade de se formar no Brasil uma população homogênea e integrada num todo social. Em ‘Memória sobre os melhoramentos da província de S.Paulo’, Applicável em grande parte a todas as outras províncias do Brasil (Rio de janeiro,Nacional,1822) AntonioVellozo de oliveira denunciava a existência vegetativa e isolada de um povo anti-social, que justamente por não conhecer prazeres , nutria um verdadeiro ‘Horror ao Trabalho’, e no entanto para que a indústria bem como todas as virtudes sociais , tivesse início, constituindo um ‘povo enérgico, rico, vigoroso, sábio, e por todos os modos respeitável’, seria preciso, antes de mais nada, instruir a população e ‘mostrar-lhe um lucro fácil, possível de ser obtido, sem muita fadiga’, o que evidentemente caberia ao Governo amparar, mediante a antecipação de capitais... o que por fim produziria a necessidade e o amor ao trabalho”(6)

(4) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág. 34-35
(5) ver Furtado.Celso,”Formação Econômica do Brasil”, São Paulo 1985,Ed..Nacional, Pág. 151
(6) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág.37-38 .


Tal como se apresenta esta idéia, evidencia-nos que em décadas anteriores este conflito já estava presente e cristalizado no cenário social. No entanto, ou fora omitido ou simplesmente ignorado pelas autoridades políticas em vigência, que por conseguinte, toma forma e passa a ser assunto de extrema relevância, unicamente pelo fato de ter ido ao encontro dos interesses econômicos em jogo. Desta forma, é importante frisar que os conflitos, a resistência e as contradições sempre estiveram atuando de forma contínua, seja como protagonista ou coadjuvante.


INFLUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

“A opressão tem um irmão gêmeo, a resistência!”
(Fabiana Schleumer.)


Temos então um velho problema, com sua solução freqüentemente adiada. Porém, mesmo que tardiamente, “a brisa nebulosa da Revolução Industrial soprará nessas terras tropicais com o intuito de finalizar este paradigma e expirar em solo brasileiro ventos de progresso e ordem social”
A autora intitula o capítulo I como: “Em Busca de um Povo”. E através dele deixa transparecer, segundo a mentalidade da época, qual seria o modelo ideal de cidadão: trabalhador, e obediente aos padrões morais e éticos (a grosso-modo, o indivíduo “culto”, tal qual eram os europeus contemporâneos).
A partir de então passa-se a discutir o fenótipo e estereótipo ideal para constituir a “sociedade do novo Brasil”.
Isto nos lança na grande Problemática: para obedecer aos padrões positivos e ao ideário europeu de civilização, o Brasil necessitava passar por uma complicada “metamorphose” que poderia ser gradativa ou instantânea.
Desta forma as opiniões variavam entre reciclar a mão-de-obra, ou desfazer-se do problema devolvendo os negros à África.


A UM PASSO DA “RECICLAGEM”

Vamos a “Reciclagem”.
Neste contexto temos o registro de várias propostas a fim de se aproveitar a mão-de-obra, entre elas vale citar a Pedagogia da Transição(destinada aos órfãos afim de cristalizar nos mesmos uma rotina de trabalho e moralidade),
A formação profissional para uma parcela desta sociedade(cursos de alfaiate,ferreiros etc), a promoção de um discurso ideológico onde buscava introjetar nestes nacionais pobres e livres o cultivo do Amor ao Trabalho,a repressão Policial àqueles que se entregassem ao Ócio, e uma inevitável Transfusão de Sangue(européia) para Embranquecer e Racionalizar o escravo “Liberto”.

Seria possível uma Sociedade passar por tal transição de Sistema Econômico com um prejuízo Insignificante?Como lidar com uma possível escassez de Braços?Dentro do contexto especifico do Brasil seria possível ou viável sua implantação?

O enaltecimento do imigrante Europeu se deu, talvez não pela busca de uma Sociedade(mão-de-obra) que iria pensar juntamente, e sim, àquela que iria “subjulgar-se ou subordinar-se” pela força ideológica ,





O medo poderia supostamente apoiar-se na questão em que uma Sociedade acostumada com a força bruta,após libertos confundiriam liberdade com libertinagem e dificilmente obedeceria a uma mera “pressão Ideológica”,algo que geraria uma gigantesca Onda de Livres Miseráveis entregues a marginalidade, desta forma,o Caos Social, colocando em risco a grande Propriedade e fortuna de seus Senhores, o risco de se ter uma guerra civil assim como houve nos E.U.A, ou , uma revolução tal como no Haiti inspirada na Revolução Francesa era imensa , então na tentativa desesperada de conter tal “Sangria”, surge os projetos Emancipacionistas com a proposta de Integrar Socialmente o Ex-Escravo(domesticá-lo). Para em um primeiro Momento suprir a necessidade de mão-de-obra forçando o escravo a trabalhos compulsórios em troca de sua liberdade,
Temos aqui por parte dos Parlamentares uma Múltipla Preocupação, integrar o nacional,
Ir ao encontro dos interesses dos Grandes Produtores (a qual os mesmos eram seus representantes) e ao mesmo tempo obedecendo as expectativas da Coroa Inglesa.
Com o fim do trafico Negreiro entre África e Brasil, e o nascente boicote do trafico intra-provincial (referente a S.Paulo), A grande preocupação desta Elite,visto que os campos devido ao cotidiano Exaustivo, consumia muitas vidas , Era de ficar sem a mão-de-obra necessária para a manutenção ou multiplicação de sua Fortuna, em resposta a esta:

“...Em O Futuro da grande lavoura e da grande Propriedade do Brazil(Rio de Janeiro, Nacional,1878),este eminente Fluminense que havia sido Ministro da Guerra... Procurou demonstrar que não havia falta de gente no país, mas tão somente o não aproveitamento de populações dispersas e sem terra. Para ele, o problema real da lavoura no Brasil, repousava na grande propriedade,cuja existência estava ameaçada pela próxima extinção da escravatura,que ,segundo suas previsões não duraria mais de10 anos em razão da mortalidade e Manumissões,
Após constatar que a grande lavoura e a grande propriedade não se confundiam ,uma vez que os artigos de primeira necessidade podiam ser cultivados tanto em grandes extensões de terra como também em áreas pequenas , ele enfatizava que o mesmo se poderia concluir para artigos de exportação como a cana e o café, mas se eles existiam apenas em grandes propriedades era porque só os ricos os podiam cultivar, por serem os únicos com condições de compra maquinas e instrumentos caros.
Implícito nessas suas formulações a respeita da grande lavura, estava o temor de que a próxima extinsão da escravidçao colocasse em questão a própria sobrevivência da grande propriedade, afinal, a idéia de libedade já se insinuava perigosamente entre os escravos, que , a exemplo do ocorrido nas colôiasfrancesas e nos EUA, poderiam impingir aos senhores uma “libertaão sem condição alguma” por isso ele se prpunha a responder a esta questão premente:
Como manter a grande lavoura na grande propriedade? Ou,
Como manter incólume o poder do grade proprietário?
A resposta era simples: concretizar antes que fosse tarde demais, uma liberdade apenas nominal e um plano bastante detalhado. Tratava-se em primeiro lugar de dar início ao “retaliamento da grande propriedade”.
O que queria dizer dividir as terrsas em pequenos lotes e distribuí-los às famílias de escravos, de modo que elas se vinculassem definitivamente ao solo, sempre sob o poder do garde proprietário. Era apenas uma questão dee “trocar a denominação de escravos pela de forreiros”, em segundo lugar, era preciso atrair os nacionais, pobres e ivres, e também imigrantes, que decerto ansiariam pela condição de pequenos prprietáros.”(7)




(7) Ver citação de Célia a Henrique Pedro Carlos Beaurepaire – Rohan, pp. 50-51.



Beaurepaire – Rohan elabora tal discussão de forma profunda no final da década de 70, sinalizando uma opção viável a fim de sanar os conflitos em potencial que emergiam a partir de então, idéia nova? Logicamente que não, tal modelo assemelha-se muito com o modo de produção feudal, pó qual ossivelmente lhe inspirou, mas algo que é váido ressaltar é quea principal diferença entre os emancipacionistas e os imigrantistas: é que os primeiros sugeriam a inclusão do ex-escravo no meio social, já os imigrantistas preocupavam-se com o embranquecimento do Brasil, garantindo assim várias vantagens para as famílias de europeus que viessem para o país, a fim de construir uma sociedade positiva, ignorando assim a enorme sociedade que vivia a margem, visto que sua inferioridade os incapacitavam de atingir a sociedade perfeita. Eescravo atuante ou passivo?
Nota-se no desenrolar das múyltiplas teorias a defesa ou o transparecer destas formas contraditórias, ou seja, em respeito a cada tese defendida veremos a imagem de um escarvo como elemento perigoso, inimigo doméstico, sempre pronto a atacar seu senhor ou a fugir, mas por oiutro lado o mesmo é um elemento passivo e resignado a espera das ordens e punições de seu senhor.
Mulheres conquistando espaços no Brasil império?

“além dos ex-escravos, pobres nacionais e índios, também as muleres mereceram um lugar nesses discursos de reconhecimento do potencial de braços a ser incorporado ao mercado de rabalho e a sociedade... Nísia Floresta Brasileira Augusta Faria, nascida no Rio Grande do Norte e estabelecida no Rio de Janeiro desde 1838, como proprietária de um colégio para moças destacou-se como uma das primeiras feministas dopais. Suas críticas em relação a criação das meninas ricas como objeto de luxo tolos e inúteis, bem como a defesa do aproveitamento das pobres no mercado de trabalho, revelam um esforço militante em prol da afirmaão da mulher como ser social, tão atuante e necessário em termos produtivos quanto o homem” (8)

neste caso ao que se refere as nacionais pobres temos apenas uma continuidade de suas práticas, visto que a escarva já era obrigada a trabalhar, p´rimordial seria elaborarum discurso a fim de que estas, uma vez libertas não se entregassem à ociosidade, já no que se refere às mulheres ricas, seguia-se o ideal progressista, em que todas “as engrenagens desta grande máquina deveriam está em sintonia”, ou seja, esta foi pensada como elemento decisivo para a formação de uma sociedade positiva seguindo o modelo europeu, em que a mulher já exercia uma dupla jornada de trabalho, dentro e fora do lar.

CAMINHANDO PARA O PROGRESSO? (9)

“... já para se alcançar este ideal era necessário partir de uma situaão de ordem que cnrolasse a crise, evitando o desregramento da população e o caos ttal. Este período de ordem, de cise controlada ou contornada, esprimia-se pela idéia de passagem do velho Brasil, o Brasil colonial de senhores de escravos, para o novo Brasil, aquele em que as leis de mercado, livremente e em igualdade de condições (jurídicas), as relaões entre patões e empregados”. (10)





(8) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág.57
(9) a PALAVRA ‘Progresso’ nesse contexo pode ser entendida como movimento para a frente, segundo o dicionário KOO GAN/HOUAISS, 1998 Ed. Delta
(10) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág59-60.











Neste contexto, através da análise de Célia temos a identificaão de uma carência básica apontada por quase todos os autores, que é o conceito de nacionalidade, para assim resultar em uma populaçãoplenamente identificada com a idéia de pátria, e por cponseguinte de sociedade brasileira. Esta teoria carregava em suma a disciplinarização do ex-escravo, seus descendentes e pobres nacionais em geral, no intuito de prpor os remédios para os males do Brasil e sua crise.

IMIGRANTES: ARAUTOS DO PRORESSO?

“... em decorrência ao assumirem a idéia da inferioridade racial de grande parte da população brasileira, estes autores inclinaram-se a tratar da transição para o trabalho livre quase que exclusivamente do ângulo do imigrante, já que consideravam os negros e mestiços incapazes de interiorizar sentimentos civilizados sem que antes as virtudes étnicas dos trabalhadores brancos impregnassem, quer por seu exemplo moralizador, quer pelos cruzamentos inter-raciais”. (11)

Já que neste imaginário o nacional era símbolo de atrazo, temos em 1866 a fundação da Sociedade Nacional da Imigração, a fim de propiciar a substituião da mão-de-obra escrava pela branca européia, o embranquecimento da sociedade brasileira e por conseguinte o tão almejado progresso.
Mas será que os europeus correspondiam a todas estas expectativas? Ou tratava-se apenas de uma construção ideológica?
O tão freqüente termo negro-não-civilizado”, não obedecia a conotação que seria ‘aquele que vive na cidade’, visto que mesmo os escravos citadinos também recebiam a mesma rotulação, então concluímos que negro-não-civilizado era igual a não observador de valores cristãos, não racional, indomável quando organizados em bandos, imprevizível, inferior e entregue à ociosidade, em suma não branco, atributos estes verídicos ou não estavam presentes neste imaginário, em cntrapartida à imagem do europeu civilizado, que era sinônimo de branco, ou seja, racional, superior, cristão e trabalhador.
Segundo Pereira Barreteo é necessário a implantação de políticas para assegurar condições favoráveis à imigração européia, tais como a separação da religião do estado, a grande naturalização, o casamento civil, a secularização dos cemitérios, a elegibilidade dos não católico. Sem isso e mais um severo controle social entre os negros não seria possível conseguir a simpatia e benevolência da Europa e assim atrair uma grande corrente imigratória.
Não bastaria somente o clareamento da pele, a transfusão teria de ser perfeita, não serviria desta forma o índio, tampouco o chinês. Ouve até que defendesse

“...que os descendentes dos africanos fossem cruzando sucessiva e sistematicamente com os brancos (europeus), o autor garantia que como resultado o pais teria homens forte, inteligente e altivos, além disso um restinho de sangue negro mais precisamente um oitavo dele até teriam suas vantagens, pois conforme assegurava a febre amarela e as afecções paludosas respeitavam a raça mestiça”. (12)

(11) ver Azevedo.Célia M.M., “Onda Negra, Medo Branco – O Negro no imaginário das Elites século XIX” , São Paulo 1987.
ed Paz e Terra , Pág 62
(12) Azevedo cita D. Jaguaribe, algumas palavras, Opus Cit, página 42




DISTRIBUIÃO DOS CONTINGENTES IMIGRATÓRIOS POR PERÍODOS DE ENRADA
(MILHARES)


PERÍODO
PORTUGUESES
ITALIANOS
ESPANHÓIS
JAPONES
ALEMÃES
TOTAL
1851 a 1885
237
128
17
-
59
441
1886 a 1900
278
911

187
-
23
1398


“ O contingente imigratório europeu integrado na população brasileira é avaliado em cinco milhos de pessoas, é composto principalmente por i, 7 milhão de portugueses que vieram se juntar com os povoadores dos primeiros séculos, seguido de 1,6 milhão de italianos, 700 mil espanhóis, 250 mil alemães, 230 mil japoneses e outros contingente menores, principalmente eslavos introduzidos no Brasil, sobretudo entre 1886 a 1930”. (13)









(13) ver RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo, 2201. CIA da Letras.


UMA MESMA REALIDADE E UMA DIVERSIFICADA FORMA DE ANALISÁ-LA

Muitas são as análises que até o momento foram feitas a cerca do processo de transição entre o trabalho escravo no Brasil para o trabalho livre remunerado. Algumas dessas análises foram feitas de forma mais minuciosa (14), enquanto outras se limitaram a apenas apresentar de forma mais superficial o complexo processo de transição (15).
Procederemos com uma breve, porém sistemática, apresentação das linhas mestras do pensamento de COSTA, NABUCO, DOMINGUES e AZEVÊDO, acerca da motivações e posteriores conseqüências desse processo que até hoje não admite consensos.





(14)Como o trabalho de AZEVEDO, “Onda negra, medo Branco” e DOMINGUES, em “Uma História Não Contada: negro, racismo e branqueamento...”
(15)Como o fez COSTA, em “Da monarquia à república”




NABUCO E O PÁTERNALISMO BURGUÊS EM RELAÇÃO AOS NEGROS ESCRAVOS


Uma das críticas que mais se faz ao abolicionismo de Joaquim Nabuco é que além de assumir uma postura de falso paternalismo em relação aos negros escravos, ele representa a defesa dos ideais burgueses, que, longe de promoverem a abolição por motivos de humanidade, estariam bem mais preocupados com o que a Europa pensava em relação ao Brasil, uma vez que este país ainda insistia em manter uma forma de produção já tida como obsoleta. Esta crítica a Nabuco pode ser percebida tanto em Domingues quanto em Azevedo.
De fato ao lermos “O Abolicionismo” percebemos claramente a preocupação do autor com a opinião pública européia. Além disso, na concepção de Nabuco, a escravidão era um grande empecilho ao desenvolvimento do país, atravancando o seu crescimento e progresso. São suas as palavras:

Queremos acabar com a escravidão por esses motivos seguramente, e mais pelos seguintes:
1. por que a escravidão, assim como arruína economicamente o país, impossibilita o seu progresso material... (16)

Então, além da abolição, quais as propostas de Nabuco para superar os entraves do “progresso material do país”? ainda segundo “O abolicionismo”, fica claro que para Nabuco a imigração européia e a miscigenação seria um grande passo em direção ao progresso, uma vez que as raças superiores transmitiriam às inferiores as suas características positivas. Apesar de em alguns momentos Nabuco afirmar que para os abolicionistas o negro não era considerado raça inferior, ele não consegue esconder as suas idéias eurocêntricas, o que só confirma as críticas atuais feitas as suas verdadeiras intenções com o abolicionismo.
Outra questão que se impõe às idéias de Nabuco, e que ultimamente tem sido muito abordada pelos movimentos negros organizados, pelos estudiosos da história dos negros no Brasil e pelos negros intelectualizados é a postura que o autor assume diante do negro. Já no início da obra Nabuco apresenta o negro escravo como uma classe social desprovida de consciência da sua condição e incapaz de reivindicar os seus direitos, sem a mediação do movimento abolicionista (17).
Mas alguém poderia argumentar: mas o próprio Nabuco, imediatamente após apresentar o negro como incapaz de reivindicar seu direitos afirma não ser o negro (para o movimento abolicionista) “uma raça inferior, alheia à comunhão ou isolada desta”. Sim realmente Nabuco afirma isso, mas o que parece mais é que em alguns momentos o autor se contradiz, tanto nos seus propósitos quanto nas suas concepções. Se não, como explicar tais palavras do mesmo autor:

... por que a escravidão (...) excita o ódio entre as classes (18)
(16)O abolicionismo, p. 81
(17)Idem, p. 13
(18)Idem, p. 81






Isso depois de ter afirmado que:

A escravidão, por felicidade nossa, não azedou nunca a alma do escravo contra o senhor – falando coletivamente – nem criou entre as duas raças o ódio recíproco que existe naturalmente entre opressores e oprimidos (19)

Contradição? Estaria o autor tentando justificar as sua atitudes paternalistas em relação ao negro cativo?







(19)Idem, p. 16

Patrimônio Histórico e Cultural

Esta análise baseia-se na obra de Pedro Paulo Funari e Sandra de Cássia Araújo Pelegrini, intitulada Patrimônio Histórico e Cultural, desta forma, estamos incumbidos de uma tarefa extremamente complexa: analisar uma obra altamente conceituada e produzida por dois peritos no assunto. Para tanto, limitarnos-emos a uma simplista análise estrutural na tentativa de identificar a problemática sugerido pelos autores ao redor de seu tema e pontuar sua argumentação.
Funari utiliza seus conhecimentos na área de Arqueologia e Etnologia para apontar a utilização primária do termo “Patrimonium” que evidentemente nos inclui o conhecimento das causas inerentes a este especifico momento histórico e suas complicações sociais, desta forma, torna-se impossível desvincular tal concepção de sua raiz etnológica, Patrimonium nesse caso é o conjunto de bens materiais herdados(formados, aglomerados, apropriados, gerados ou mantidos pela aristocracia) que passariam para as próximas gerações, tal concepção deixa claro a organização social de Roma no seu período Imperial quando buscamos a raiz etnológica do termo “Patrício”, que é aqueles que possuem “Patres” , ou seja , uma linhagem – Loci - aristocrática que está atrelada a posse – Pecus – de recursos inclusive humanos(escravos) e materiais;
E podemos nesse contexto, vislumbrar sua manutenção e posteriormente a substituição de valores sociais que implicarão na ampliação deste conceito.
Segundo os autores, a ampliação deste se dá após a ascensão do cristianismo no cenário mundial e sua necessidade de construir um conjunto de estruturas ideológicas coletivas, levando a construção de catedrais onde relíquias religiosas compunham este ambiente mentalizado pela sociedade medieval, produzindo não só um fator de coerção, mas iniciando um ciclo de re-significação para o conceito de patrimônio que até o momento continuava a ser aristocrático porém coletivo. A busca pela Antiguidade no renascimento desempenhou um papel importante e o ápice desta re-significação ou ampliação deste significado surgirá à partir de 1789 na França com a revolução. A criação do Estado nacional proporciona a invenção do conceito moderno de patrimônio – “não mais no âmbito privado ou religioso das tradições antigas e medievais, mas de todo um povo, como uma única língua, origem e território” – Haverá uma pequena divergência na concepção de patrimônio em duas tradições do direito: a concepção do direito romano ou civil e do direito consuetudinário de origem anglo-saxônica, desta forma, respectivamente uma privilegiará o estado e outra a propriedade privada; ainda no ambiente da revolução francesa teremos a criação de uma comissão que se encarregará da preservação do patrimônio nacional que é entendido como um bem material concreto, um monumento, um edifício, assim como objetos de alto valor material e simbólico para a nação, porque parte-se do pressuposto de que há valores comuns, compartilhados por todos, que se consubstanciam em coisas concretas, a partir de então teremos a aplicação de uma legislação especifica e a criação dos museus que são responsáveis pela proteção e administração deste patrimônio. A criação da ONU e da UNESCO após a segunda guerra mundial viria a superar o nacionalismo e o imperialismo na questão que refere a eleição, manutenção e preservação de um suposto “patrimônio da humanidade”, e sob este viés argumenta os autores que a concepção do patrimônio nacional era minado no cotidiano das lutas sociais, e sob este aspecto temos uma preciosa argumentação da Dra. Marilda Aparecida Soares em seu artigo: O resgate da identidade nacional: cultura e fato histórico, onde a mesma aprofunda tal problemática acerca da identidade nacional(a autora refere-se ao Brasil, porém sua análise de forma alguma se distancia do cenário mundial) – Como registrar a história de um povo formado segundo os critérios excludentes da sociedade colonial? Como apresentar a cultura do povo brasileiro sem mencionar o fato de que parte significativa desse povo e, portanto, dessa cultura, foi sistematicamente desqualificada pelos colonizadores?
Tal ponto de vista só é possível graças a matriz cientifico – metodológica que lhes é comum, tanto Funari, Marilda e Pelegrini dedicam-se a construção da história do cotidiano, algo que foi possível apenas a partir do desenvolvimento metodológico especifico que iniciou-se com a escola dos annales , assim torna-se fácil a compreensão desta preciosa mudança na concepção de patrimônio, pois, se tomarmos como ponto de partida a corrente marxista que distancia-se do caráter social para ater-se as questões estruturais, e, sob esta ótica, teremos obviamente a exaltação de monumentos e edifícios que se remetem a grandes marcos ou acontecimentos históricos, fugindo da responsabilidade de incluir em sua construção histórica o fundamento essencial: o sujeito histórico.
No tocante a isto:

“... já não faz mais sentido valorizar apenas, e de forma isolada, o mais belo, o mais precioso ou o mais raro. Ao contrário, a noção de preservação passava a incorporar um conjunto de bens que se repetem, que são, em certo sentido, comuns, mas sem os quais não pode existir o excepcional. É nesse contexto que se desenvolve a noção de imaterialidade do patrimônio. Uma paisagem não é apenas um conjunto de árvores, montanhas e riachos, mas sim uma apropriação humana dessa materialidade. Assim, compõem o patrimônio cultural não apenas as fantasias de carnaval, como também as melodias, os ritmos e o modo de sambar, que são bens imateriais...”

Esta obra preocupou-se em traçar o conjunto de significados adquiridos pelo termo patrimônio em sua trajetória histórica e finaliza com uma preciosa critica a administração da Unesco em sua concepção Eurocêntrica sobre patrimônio da humanidade, e, além disso, deixa claro suas limitações de caráter religioso, sendo que, preocupava-se em tombar apenas monumentos católicos reconhecendo apenas em 1982 um dos mais antigos templos do culto negro no Brasil, e além de todas essas limitações, ainda encontramos a visão elitista e excludente destes tombamentos ao que se refere aos grandes centros metropolitanos, onde coloca-se em primeiro plano os objetos memoráveis e menospreza-se os agentes memorizadores, que no exemplo dado por Funari e Pelegrini acerca da revitalização dos centros históricos latino-americanos, onde é necessário transferir a parcela desprivilegiado da sociedade que aglomeram-se nos centros “denegrindo a imagem a ser preservada” quando os mesmos fazem o uso “não convencional” de edificações(impedindo o “espetáculo do patrimônio” e o turismo cultural), para outras áreas deixando a possibilidade de tornar estes centros com um “ar” mais agradável, escondendo assim toda a doença social vivida por essa parcela da sociedade, e, sob este aspecto, infelizmente podemos detectar que a seleção dos objetos memoráveis estão longe de obter um caráter essencialmente popular, deixando de lado a memória destes que são “expulsos” dos centros históricos por não obedecerem a um padrão estético-comportamental, logicamente, como evidencia os autores, que a experiência patrimonial no Brasil tem sido assimilada no seu sentido mais completo, em sintonia com a coletividade e a partir de conhecimentos antropológicos, sociológicos, históricos, artísticos e arqueológicos orientados por especialistas, e a implantação de cursos de educação patrimonial garantirá o esforço popular para a manutenção desse patrimônio histórico e cultural.
Logo, a concepção primária que se limita ao caráter aristocrático será acrescida de significações até resultar no atual conceito de patrimônio coletivo que não só restringe-se ao monumento edificado, como também as paisagens naturais e a forma em que tais objetos são apropriados pela sociedade tornado esse mesmo patrimônio material e imaterial, avançando a fronteira da importância meramente histórica e chegando ao ápice de contemplar suas características culturais.



Referências Bibliográficas

Funari, Pedro Paulo e Pelegrini, Sandra de Cássia Araújo, “Patrimônio Histórico e Cultural”
Ed.Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2006.

Paulista, Marilda Aparecida Soares Alcântara, “O resgate da Identidade Nacional: Cultura e Fato Histórico”
In Domínios de Linguagem II, Ed. FFLCH/USP: São Paulo, 2002.

A Bandeira de Francisco de Mello Palheta ao Madeira e o documento da Narração da Viagem

Análise Documental:

Ao iniciarmos uma breve análise do documento chegamos a conclusão de que trata-se de um relato que refere-se a uma expedição ocorrida de 11 de novembro de 1722 a 12 de setembro de 1723, chefiada por Francisco de Mello Palheta e teve por destino o rio Madeira e suas Vertentes;
Inicialmente deparamo-nos com um texto confuso,complexo e prolixo,
De forma que após uma primeira análise somos tentados a diagnosticá-lo como incompleto e contraditório, porém após uma re-análise de seu conteúdo torna-se visível que exatamente na falta de informação possui os elementos necessários para a compreensão do mesmo.
Por se tratar de uma expedição promovida no século XVIII por portugueses, somos inconscientemente levados a deduzir as possíveis intencionalidades da expedição que poderia ser :
-Captura de escravos(índios)
-Busca de Riquezas (minerais)
-Povoamento das áreas ainda não ocupadas por Portugueses
-Delimitação de território, entre outros

Porém nenhuma destas intencionalidades aparecem no plano “linear” e encerra-se o relato transmitindo-nos a imagem de que tal expedição foi mal sucedida, assim podemos concluir que evidentemente a mesma cerra-se sem atingir seu ideal, ou talvez, podemos arriscar-nos a supor um possível preenchimento de suas lacunas,
Tendo por base que o documento está incompleto,podemos arremeter esta omissão de fatos a várias possíveis razões, mas para isso teremos de identificar seu autor;
Sabendo que no período colonial apenas 0,01% da população Brasileira freqüentava os colégios Jesuítas ; que o fenótipo do Bandeirante era ser um sujeito Analfabeto(anulando assim qualquer possibilidade de lhe atribuir a autoria) , torna-se difícil aceitar que um sujeito “de origem nobre” se sujeitaria a uma expedição de resultados duvidosos e sujeito a diversos perigos a fim de apenas relatar meros acontecimentos “corriqueiros e banais”,
Então resta-nos acreditar que possivelmente este foi um relato posterior a viagem onde foi relatado apenas o que interessava.
Ou se foi escrito por um dos tripulantes da expedição este deveria ser o único capelão que os acompanhavam, se assim se foi resta-nos a identificar a falta de coesão no texto, onde um assunto não se liga ao outro, pelo menos não de forma lógica, evidentemente pode ter sido ocasionado por uma possível censura por parte do sargento-mor, limitando-se a não relatar possíveis confrontos sangrentos com tribos indígenas que provavelmente resultou na morte de Três homens citados como desertores,
A ausência de relato sobre o aprisionamento de indígenas para o trabalho escravo vai ao encontro de interesses financeiros visto que possivelmente havia a necessidade de prestar contas com os financiadores da expedição e uma vez omissa esta informação resultava em maiores lucros, pois é difícil aceitar a idéia de que uma expedição deste porte retornasse após 10 meses sem sequer um escravo ou qualquer outro tipo de riqueza.
Ao concluir chegamos ao consenso de que a riqueza do relato está justamente na omissão dos fatos abrindo-nos possíveis e infinitos caminhos para trilhar.

RE-EVOLUÇÃO CUBANA

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por intuito enfatizar as peculiaridades da Revolução Cubana Algo que torna-se possível apenas após o evidencia mento de suas bases sociais e sua construção Político-ideologica intrinsecamente ligado as suas práticas , Longe porém da intenção de ser Prolixo, abordarei, hora com profundidade, ou em outras, com caráter prático os acontecimentos a desembocar na vitoriosa Revolução Cubana,em 1959.


RE-EVOLUÇÃO CUBANA

No dia 1º de Janeiro de 1959, brota em Havana uma semente que estava até então estéril ou infrutífera, Revoluito-õnis, palavra Latina que à partir do século XVII toma a conotação a qual lhe atribuímos ainda nos dias de hoje.
Revolución nada mais é do que uma mudança radical na estrutura econômica, política e social de um estado. (1)
Esta data longe de limitar-se apenas a ilha de Cuba, passa a ser uma linha demarcatória na História da América Latina; A partir de então, fiquemos atentos a duas palavras: Revolución e Socialismo, afim de aproximarmo-nos de uma compreensão do contexto que tornou-se peculiar da sociedade Cubana.

O INICIO DA EXPLORAÇÃO: A DOMINAÇÃO ESPANHOLA

A partir de 1492 temos (segundo os registros disponíveis) a 1º mudança radical no cenário político-social da ilha, pois se antes, havia uma sociedade (indígena) que quando comparada com a disparidade e competitividade capitalista, torna-se fácil supor que possuía em contraste a esta, uma certa harmonia social. Em substituição a esta, temos uma reorganização social sob os moldes Espanhóis de colonização, e, para este período teremos de contentarmo-nos com a interpretação de Emir Sader, que por sua vez , a desenvolve de forma admirável, e lançar-nos-emos a sua ótica, para um breve entendimento deste período.
O mesmo articula seu raciocínio argumentando que a história Cubana não se diferencia das outras nações latino-americanas apenas a partir da vitória Revolucionária , em 1º de Janeiro de 1959, e, que cuba foi o primeiro lugar em que se estabelecerão os espanhóis, e a partir dela adentram ao continente.
Liderados por Hernán Cortés, parte a milícia espanhola para o primeiro genocídio das populações indígenas,




(1) ver CUNHA,Antonio G. da. “Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa”, São Paulo, ed. Nova Fronteira,1997.

“Cuba foi o primeiro país a ser pilhado em suas riquezas naturais para os conquistadores ibéricos .foi lá que se construíram a primeira catedral e a primeira universidade da América
Tendo sido a primeira colônia espanhola , cuba foi também a última. A escravidão só foi abolida em cuba em 1886-apenas pouco tempo antes do Brasil - e, junto com Porto Rico, foi um dos paises que não conseguiram se tornar independentes da Espanha nas primeiras décadas do século XIX.
Concentrando durante muito tempo grandes riquezas do império Espanhol, Cuba foi um país por onde cruzavam muitas rotas marítimas e , com ela, as idéias que circulavam entre os continentes.Combinavam-se assim ,em Cuba, a sobrevivência da escravidão e das correntes de pensamento mais progressistas da América...”(2)


Para a utilização de tais hipóteses, nos serão necessário o devido cuidado que se tem ao extrair o fruto da colméia, pois ao afirmar que passava por cuba as idéias que circulavam no continente, leva-nos a concluir que havia uma absorção destas idéias por parte da sociedade, quando na verdade esta absorção, deu-se em um mínimo fragmento desta sociedade(referente a porcentagem ínfima da sociedade que tinha acesso a Eduação), algo fácil de visualizar quando pensamos na hierarquia colonial Espanhola que dava-se da seguinte forma:
-Chapetones
-Crioulos
-Mestiços
-Indios
-Escravos Africanos
De forma que haverá uma promoção destes ideais, sob forma maciça, apenas quando ir ao encontro a interesses tais como: A necessidade de Independência Nacional com o intuito de propiciar uma redução de impostos e a possibilidade de uma abertura comercial , não obstante a isto, a viabilidade de uma hipótese contrária torna-se praticamente insustentável.





(2)ver SADER, Emir. Cuba, Chile, Nicarágua: socialismo na América Latina. Col. História Viva. 9ª Ed. Atual Editora. São Paulo, 1992. p. 6.
CARACTERISTI CAS DA CUBA COLÔNIA

As estruturas sociais de Cuba em seu período colonial não diferem muito das estruturas implantadas nas demais colônias Espanholas. O capitalismo mercantil ocupa neste cenário sua principal atividade econômica baseada na agricultura latifundiária e monocultora, voltada para a plantação de cana-de-açúcar, e a forte presença do Cristianismo Católico tentando desenvolver o papel de uni-formização ideológica, e somado a estas, a má administração( que compreende desde o sistema de portos únicos as frotas anuais), desta forma, teremos como resultado um alto nível de exploração sob as classes menos privilegiados.


A LUTA PELA IN-DEPENDÊNCIA

...“Em que Pátria Pode o homem ter mais orgulho do que em nossas Repúblicas dolorosas da América , levantadas entre as massa mudas de índios, ao rumor da luta contra o círio,sobre os braços ensangüentados de uma centena de Apóstolos ?...
JOSÉ MARTÍ

Devido a exploração, teremos por resposta, um descontentamento por parte da burguesia cubana que via-se impedida de aumentar seus lucros graças administração Espanhola que exatamente por ser baseada na exploração, não possibilitava em larga escala mobilidade social, e, influenciados pelos ventos iluministas e da revolução industrial (liberdade de comercio), iniciam um movimento de libertação nacional, e para dar legitimidade as intencionalidades burguesas teremos a promoção de uma certa identidade nacional, fator que fica evidente com as palavras de Martí acima citadas.

No entanto essa libertação em relação à Espanha não se deu nem de forma simples nem de forma rápida. Inicialmente vale ressaltar que Cuba representava um grande potencial econômico, uma vez que, com a Divisão Internacional do Trabalho havia se tornado uma das maiores produtoras de açúcar do mundo, o que levava tanto a Espanha quanto os Estados Unidos, a investirem, o que fosse possível, nas disputas pela dominação da região. Assim temos três momentos cruciais ao longo do processo de

transição entre a dominação espanhola e a dominação norte-americana (3):

Primeira Guerra de Independência (1868 – 1878), também conhecida como Guerra dos Dez Anos; fortemente marcada pela contradição entre colônia e metrópole, esse conflito foi liderado pela burguesia açucareira cubana;



Segunda Guerra de Independência (1895 – 1898); aqui, apesar dos conflitos terem se estabelecido em um clima favorável a Cuba, ainda não seria de Cuba a vitória, uma vez que os interesses norte-americanos já haviam chegado ao ponto de temer que Cuba, uma vez se desvencilhando da dominação espanhola não se submetesse ao seu controle. Ainda seria necessário ao menos mais um grande conflito para que os Estados Unidos conseguissem o seu intento: tomar Cuba dos espanhóis.

Guerra Hispano-Americana (1898-1901), com o interessado apoio dos Estados Unidos, Cuba consegue sair da dominação espanhola, caindo, inevitavelmente na dominação norte-americana.



ENTRE A CRUZ E A ESPADA

... “ É um dever meu evitar, mediante a independência de Cuba,que os Estados Unidos se estendam pelas Índias ocidentais e caíam com maior força sobre outras terras da nossa América. Tudo que fiz até agora e tudo que faça de agora em diante tem essa finalidade[...] conheço o monstro porque vivi em suas entranhas e minha única arma é a funda de Davi”.(4)




(3) ver AQUINO, Rubim Santos Leão de. & JESUS, Nivaldo Freitas de Lemos & OSCAR Guilherme Pahl Campos Lopes. “História das sociedades americana”s. Ed. Ao Livro Técnico. Rio de Janeiro, 1990.

(4) ver SADER, Emir. Cuba, Chile, Nicarágua: socialismo na América Latina. Col. História Viva. 9ª Ed. Atual Editora. São Paulo, 1992. p. 7.



Apesar de todo o esforço de Martí em fundar o partido Revolucionário e liderar o exército de camponeses armados fundamentalmente com facões, contra o exército colonizador munido de armamento a pólvora (5), Foi inevitável, após sua independência impedir a dominação norte-americana devido a desestruturação política que a nação atravessava, e, após os três últimos anos de Guerra com a Espanha, seria além de inviável uma tremenda tolice travar uma guerra com um inimigo tão próximo e tão poderoso(EUA), desta forma com sua constituição ainda em formulação e a intensa pressão por parte dos Estados Unidos através da presença de seu exército na capital Havana, a Cúpula política Cubana não teve outra alternativa senão anexar a sua constituição o que viria a ser seu pior pesadelo: A Emenda Platt.

A POLÍTICA NEO-COLONIZANTE DOS E.U.A

“Existem leis de gravitação política, assim como as há de gravitação física: assim como uma maçã arrancada da árvore pela força do vento, mesmo que não queira, somente pode cair no solo, Cuba, uma vez rompida a conexão que a liga à Espanha, deve, necessariamente gravitar para a União norte-americana.” (6)


A Emenda Platt foi uma proposta apresentada no parlamento dos EUA pelo senador Hitchcock Platt, e por conseguinte, teve de ser anexa a constituição de Cuba,
Os principais objetivos desta emenda são:

“1. Que o governo de Cuba nunca deverá ingressar em qualquer tratado ou outro pacto estabelecido com qualquer potência estrangeira (...)”.

3. Que o governo de Cuba permita que os Estados Unidos exerçam o direito de intervir o sentido de preservar a independência cubana, manter a formação de um governo adequado para a proteção da vida, propriedade e liberdade individual (...)

4. Que todos os decretos dos Estados Unidos em Cuba durante sua ocupação militar sejam ratificados e validados (...)


(5) ver Cáceres,Florival.“História da América”,São Paulo, ed. Moderna, 1980.
(6) ver Afirmativa do secretário de Estado dos EUA, John Quincy Adams, em 1823. LAMORE, J., Cuba, PUF, p. 29 e 30. In: História das Sociedades Americanas. P. 390.
7. “Que, a fim de auxiliar os Estados Unidos a sustentar a independência cubana (...), o governo de Cuba deverá vender ou alugar terras aos Estados Unidos necessárias para a extração de carvão para linhas férreas ou bases navais em certos locais especificados de acordo com o presidente dos Estados Unidos (...)” (7).

... “ Durante a primeira metade do século XX a história de Cuba foi a de quase anexação política, seja direta — houve três ocupações militares norte-americanas da ilha -- seja indireta, por meio de ditaduras ou governos fantoches, submissos à embaixada dos EUA em Havana. Economicamente centrada na produção de açúcar, Cuba passou a ter seu comércio exterior totalmente voltado para os Estados Unidos, que vieram a controlar também os principais engenhos. Por isso a historiografia Cubana fala do país como neo-colônia norte-americana nesse período e de seu sistema político como uma proto-república .
Esse estatuto somente aumentou os paradoxos de Cuba como país: os EUA passaram a controlar 90% das minas, 50% das terras, 67% das exportações e 75% das importações. Dentro desse império de situavam a maior fábrica de Coca-Cola do mundo- valendo-se do açúcar barato da ilha- e a mais poderosa gráfica de língua espanhola- a da revista seleções.
A primeira linha aérea internacional regular, criada pela então poderosa companhia Pan American, foi entre Miami e Havana.
Um desses ditadores sustentados pelo governo norte-americano - Gerardo Machado – foi derrubado por um grande movimento popular, em 1933,que aos poucos foi sendo açambarcado por militares, dentre os quais ressaltava um sargento - Fulgêncio Batista – mais tarde eleito Presidente da república. O governo de Batista, assim como o dos dois presidentes que o sucederam , foi vitima da corrupção e da subordinação aos EUA, tradicionais na política cubana em toda a primeira metade do século.
Quando ocorreu a possibilidade de que um partido de oposição triunfasse nas eleições convocadas para 1952, com uma bandeira de moralização e soberania nacional, o mesmo Fulgêncio Batista – agora oficial do exército cubano – deu um golpe militar e voltou ao poder. O membro do Partido impossibilitado de vencer nas eleições, o advogado recém formado Fidel Castro,..”.(8)


Segundo Santo Agostinho: “A esperança tem 2 irmãs; a raiva e a coragem.” E ainda nesta ótica Fabiana Schleumer declara que: “A opressão tem uma irmã gêmea; a resistência.” Veremos então o resultado desta dominação opressora e exploradora. A articulação de uma consciência política formada e forjada à custa da miserabilidade social presente no cotidiano da grande massa.







(7)ver Artigos da Emenda Platt. MORRIS, R. B. Documentos Básicos da História dos Estados Unidos. pp. 181 – 183. In: História da sociedades Americanas. P. 391.

(8)ver SADER, Emir. Cuba, Chile, Nicarágua: socialismo na América Latina. Col. História Viva. 9ª Ed. Atual Editora. São Paulo, 1992. p. 7.
... “ ‘ Antes eu vivia desempregado vários meses por ano.’ ‘Isso era antes’ ‘Antes era impossível para alguém como eu chegar a ser o que sou.’ Logo se percebe que se trata de ‘Antes da Revolução’. Impossível para eles[os cubanos] não dividir sua vida em um “antes” e um “depois”.(9)

Este relato, trata claramente da situação pré-revolução onde grande parte de camponeses que não possuía ou não havia condição de produzir em suas terras, conseguia emprego apenas no período de colheita da cana-de-açúcar por onde girava a maior parte da economia cubana. Esta é sem duvida, uma entre a enorme gama problemática que encontraremos para o período. Durante os últimos anos da ditadura de Fulgencio Batista , a corrupção do governo e a opressão contra o povo cubano, atingiram níveis insuportáveis . O momento foi oportuno para a reação. Mas tais ideais, poderiam ter surgido do nada?

SOCIALISMO ANTÍDOTO?

“ Ao criar o primeiro estado socialista da História, a revolução Bolchevique de 1917, na Rússia, significou para muitos a esperança de um novo mundo, sem grandes desigualdades sociais.
Terminada a segunda Guerra Mundial, esse desejo parecia cada vez mais próximo de se realizar. Em diversos paises da Europa, os movimentos Socialistas cresciam e ameaçavam os Governos estabelecidos.
No leste Europeu, a União Soviética ajudava os grupos de orientação Comunista a tomar o poder. O mesmo movimento podia ser observado na Ásia, em especial na China, País com a maior população do mundo.
No fim da década de 1950, o comunismo chegaria a América Latina, na pequena ilha de Cuba, provocando o temor nos norte-americanos de perderem aliados territorialmente próximos. O avanço do Comunismo - não por acaso – amedrontava os Estados Unidos e todos os defensores do Capitalismo.”(10)

Após 1917 o domínio Russo se estende sobre várias outras repúblicas: Geórgia, Moldávia,Armênia,Ucrânia, Rússia Branca,Usbequistão entre outras. Em 1922 o país adotou o nome de União Soviética.





(9)ver SADER, Emir. Cuba, Chile, Nicarágua: socialismo na América Latina. Col.. História Viva. 9ª Ed. Atual Editora. São Paulo, 1992. p. 5.
(10) ver FIGUEIRA,Divalte Garcia. “História, Novo Ensino Médio” , São Paulo, ed. Ática,2005.

O próximo país a adotar o Socialismo foi a Mongólia, em 1924. Nos demais só a partir da Segunda Guerra Mundial, é que a Economia de mercado se tornou em “Economia Planificada”: Iugoslávia, Albânia, Alemanha Oriental,e Bulgária, em 1945-1946; Polônia e Romênia, em 1947; Tchecoslováquia e Coréia do Norte, em 1948; China e Hungria , em 1949; Cuba em 1959-1961; Vietnã em 1945 e Vietnã do norte em 1975; Laos ,Camboja, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau em 1975.
Durante muitas décadas, pareceu que o futuro pertencia ao Socialismo, O mundo Socialista que correspondia a apenas 6% da Humanidade em 1939, abrangia quase 33% em 1988.

MAS AFINAL, O QUÊ É SOCIALISMO?

Um grande numero de estudiosos nunca admitiu usar o termo Socialista para designar qualquer Estado-Nação. Esse conceito tal como ele foi pensado no século XIX pelos fundadores do Socialismo científico, deveria ser aplicado a Sociedades – ou ao mundo inteiro – apenas quando não mais existissem de fato classes sociais e quando houvesse uma grande abundância de bens à disposição de todos, com igualdade quase total entre as pessoas e uma extrema liberdade individual.
Além disso, numa sociedade verdadeiramente socialista o Estado seria totalmente controlado pelos trabalhadores e iria progressivamente perdendo sua força. Com a repartição cada vez mais justa das riquezas, com o desaparecimento das diferenças de classes e da divisão entre o trabalho manual e o intelectual – já que todos seriam igualmente valorizados e teoricamente seria fácil passar de um tipo de serviço para o outro, os órgãos que compõem o Estado (governo,tribunais,prisões, polícia,etc.) seriam cada vez menos necessários. A própria coletividade iria resolvendo democraticamente todos os problemas que surgissem. Numa sociedade deste tipo, com tal grau de mudança de mentalidade, é provável que nem existissem roubos e guerras.
Nessa concepção, o Socialismo seria uma etapa de transição que levaria ao Comunismo,quando então não mais haveria Estado, e todos receberiam de acordo com suas necessidades(e não mais de acordo com seus trabalhos como no Socialismo). Esse modelo de socialismo verdadeiramente democrático e popular, que no século XIX foi tema dos estudos e aspirações de autores clássicos como Marx, Engels e outros, denominava-se Socialismo Ideal. E o socialismo que existiu nas antigas economias planificadas, que em geral seguiram o modelo soviético instituído a partir de 1917, denominava-se Socialismo Real, ou socialismo realmente existente.
Enveredados neste contexto mundial e oprimidos pela política de Batista, surge um grupo de guerrilheiros liderados por Fidel Castro.

ASSALTO AO QUARTEL

Fidel então desacreditado na democracia Cubana devido ao golpe que o impossibilitou de concorrer legalmente as eleições, via então na revolução a única solução para sanar os conflitos sociais em cuba. Assim passou a articular um plano de assalto ao Quartel de Moncada , principal centro militar de Santiago de Cuba.
A intenção de Fidel em articular esse plano resumia-se em tomar o poder e derrubar a ditadura vigente. Com o apoio das armas, convidaria as massas populares à derrubar o governo ditatorial e implantar um governo popular.
Traídos ou vitimados pela falta de experiência militar, Fidel e seu grupo de guerrilheiros, devido a alguns erros estratégicos, não conseguiram concretizar seu plano, tombaram assim sob o experiente exercito do General Batista,restando assim alguns sobreviventes, entre eles o líder Fidel Castro, presos,foram julgados e condenados pelo tribunal Cubano.


A AUTO-DEFESA

Uma vez negado ao líder do levante a possibilidade de ter um advogado de defesa, Fidel, advogado teve de elaborar sua própria defesa:

“Quando falo de povo não me refiro aos setores acomodados e conservadores da nação, os quais acham bom qualquer regime de opressão, qualquer ditadura, qualquer despotismo, prostrando-se diante do senhor da época até quebrar a testa no chão. (...) Ao enfrentar a luta, convocamos o povo, os seicentos mil cubanos que estão sem trabalho, desejando ganhar o pãoo sem trabalho, desejando ganhar o p povo, prostrando-se diante do senhor da atorial do general Fulg de invasir da dominaçhamar honradamente sem ter que emigrar da sua pátria em busca de sustento; os quinhentos mil operários do campo que vivem nos bohíos (11), que trabalham quatro meses no ano, passando fome no tempo restante, compartilhando a miséria com seus filhos, que não têm uma polegada de terra para semear e cuja existência deveria inspirar compaixão, caso não existisse tantos corações de pedra; os quatrocentos operários industriais e braçais, cujos ingressos estão todos desfalcados, cujas conquistas lhes estão sendo arrebatadas, cujas casas são cortiços infernais, cujos salários passam das mãos do patrão para as do garrotero (12), cujo futuro é a redução do salário e dispensa do emprego, cuja vida é o trabalho eterno e cujo descanso é o túmulo; os cem mil pequenos agricultores, que vivem e morrem trabalhando na terra que não é sua, sempre contemplando-a como Moisés contemplava a Terra Prometida, até morrer sem chegar a possuí-la; que tem de pagar, como os servos feudais, por sua parcela, com uma parte de seus produtos, que não podem amar a terra, melhora-la e embeleza-la, nem plantar um cedro ou uma laranjeira, por que ignoram o dia em que virá o oficial de justiça com a guarda rural para dizer-lhes que devem sair; os trinta mil professores primários e demais professores, tão abnegados, sacrificados e necessários para que as futuras gerações tenham um melhor destino, e aos quais se trata e paga tão mal; os vinte mil pequenos comerciantes esmagados pelas dívidas, arruinados pela crise e destruídos por uma praga de funcionários aventureiros e venais; os dez mil jovens profissionais: médicos, engenheiros, advogados, veterinários, pedagogos, dentistas, farmacêuticos, jornalistas, pintores, escultores, etc. , que, ao sair das escolas com seus diplomas, desejosos de lutar e cheios de esperança, encontram-se num beco sem saída, com todas as portas fechadas, surdas ao clamor e à súplica (13)”


“Senhores Juizes:
Jamais um advogado teve que exercer seu mister em condições tão difíceis. Nunca, contra um acusado, foram cometidas tantas irregularidades. Um e outro, neste caso, são a mesma pessoa. Não pude, como advogado, nem sequer ver o sumário, e,como acusado, faz hoje,setenta e seis dias que estou encerrado numa cela solitária, absolutamente incomunicável,num desrespeito completo a todos os preceitos humanos e a todas as prescrições legais...
Impediram da mesma forma que chegassem as minhas mãos os livros de Martí. Parece que a censura da prisão os considerou demasiado subversivos. Ou será porque considerei Martí o autor intelectual do 26 de Julho? Fui impedido,além disso, de trazer a esse julgamento as obras de consulta sobre qualquer matéria. Não importa! Trago no coração os ensinamentos do Mestre e no pensamento as nobres idéias de todos os homens que defenderam a liberdade dos povos...
Em que país vive o senhor promotor?Quem, lhe disse que promovemos levante contra os poderes CONSTITUCIONAIS DO ESTADO?...
Por mais que se espiche, se encolha ou se remende, nem uma só virgula do artigo 148 é aplicável aos fatos de 26 de Julho.”(14)


(11) cabana feita de madeira e ramos, sem nenhuma abertura além da porta (N. do E.)
(12) Agiota (N. do E.)
(13) CASTRO, Fidel. A História me absolverá. Ed. Expressão Popular. São Paulo, 2005. pp. 34-36.
(14) CASTRO, Fidel. A História me absolverá. Ed. Expressão Popular. São Paulo, 2005. pp.5-18.


Depois de cumprir a pena que lhe foi imposta, exila-se no México onde vai conhecer uma personalidade fundamental para o desencadear da entrada triunfal em Havana em 1º de Janeiro de 1959, Ernesto “Che” Guevara, que o ajudará a organizar as investidas contra a ditadura de Batista.



ENFIM, REFORÇOS

Ernesto “Che”Guevara Argentino,Médico,andarilho e guerrilheiro,tornou-se dirigente do estado Cubano, devida sua importante atuação na guerrilha desencadeada para suprimir o cenário opressor vigente em cuba.

...“ Poder-se-ia dizer que em todos os pensadores Marxistas- do próprio Marx e de Engels, a Lênin e Rosa, Trotski, Gramsci, lukacs,Mão – a obra teórica aparece indissoluvelmente vinculada a prática em que estão engajadas.
Mas essas obras contêm sempre sistematizações teóricas que exigiram uma atividade especifica de elaboração e alcançaram níveis de generalizações que ultrapassaram em muito o momento vivido. No caso do Che, talvez a brevidade de sua vida ou a intensidade de seus engajamentos deram a sua obra um caráter particularmente precário...
Pois a obra do Che se desenvolveu nos estreitos limites entre uma ação absorvente e uma morte breve. Quando se lançou a luta armada, Guevara não era portador de nenhuma originalidade teórica, nem representante de alguma corrente particular do movimento político.Ele apenas apontava para uma alternativa para os impasses de uma situação histórica.É o significativo que praticamente todos os seus escritos sejam posteriores à tomada do poder em cuba. Uma vez que provada a viabilidade de uma ação, ele se dispôs a tirar seus ensinamentos e a combater as idéias que considerou caducas. Quando sua ação perdeu eficácia, ele morreu com ela.”(15)

Eder Sader,desenvolve nesta discussão o argumento que a importância de Guevara não vem do rigor teórico,que carregava,e sim na capacidade de reagir a uma situação de impasse, formulando proposições concretas de ação e enfrentando as exigências decorrentes.Sua teoria não é uma livre construção do espírito: é a teoria de uma prática que alterou as condições sociais no continente.

(15) ver Sader,Eder. “Che Guevara - Política”,São Paulo, ed. Expressão Popular,2004, p12-13.


NOVAS TENTATIVAS

No período em que esteve no exílio Fidel já havia se encarregado da divulgação de suas idéias na ilha, e assim ao retornar contava não só com o apoio de Guevara, mas também com o apoio de uma parcela da sociedade que teve de alguma forma contato com suas idéias e assim se identificou com elas.
Inicia-se assim a articulação e execução de ataques frustrados ao governo, não havendo opção a guerrilha refugiam-se no complexo de montanhas de Sierra Maestra, contando agora com o apoio dos camponeses da região descontentes com sua condição e simpatizantes aos ideais revolucionários da guerrilha.

“Os sobreviventes, em número de doze, entre eles o próprio Fidel Castro, seu irmão, Raul e Che Guevara, deram início então à terceira etapa pelo poder, depois da tentativa de assalto ao quartel de Moncada e do fracassado desembarque: começaram uma guerra de guerrilha rural. Buscando apoio direto nos camponeses da região oriental de Cuba, especialmente na Sierra Maestra, o sistema de montanhas mais alto do país. O terreno se adequava à luta de um pequeno grupo de homens que se valeria da simpatia da população local com sua reivindicação de reforma agrária, utilizando a mobilidade e a surpresa para hostilizar as tropas do exército, muito superior em homens e armamento ao pequeno núcleo guerrilheiro.(16)



A guerrilha assumirá a partir de então, uma outra forma, ou seja, a aproximação com os camponeses ansiosos por uma reforma agrária trará a Fidel uma nova concepção revolucionária que possivelmente, arrisco a afirmar, trouxe este caráter radical a guerrilha,dando a este momento histórico seu caráter peculiar.








(16) SADER, Emir. Cuba, Chile, Nicarágua: socialismo na América Latina. Col. História Viva. 9ª Ed. Atual Editora. São Paulo, 1992. p. 12-13.
POR FIM, A REVOLUÇÃO

O movimento amadurece, toma corpo, forma e destaque a ponto de ruir as antigas bases ditatoriais de Batista e assim temos a tão esperada tomada do poder por conta dos guerrilheiros, que ousam deixar a serra e avançar sob o inimigo:

As colunas rebeldes avançaram em todas as direções no resto do território nacional sem que nada pudesse detê-las. Se um comandante cai, outro ocupa seu posto. O povo de Cuba deve preparar-se para auxiliar nossos combatentes. Cada povoado (...) pode converter-se em campo de batalha. A população civil deve ficar prevenida para poder suportar valorosamente as privações da guerra (...) (17)


Neste ponto, a imagem de Batista já era totalmente repudiada não só pelo povo mas também pelos Estados Unidos o qual ele era representente,e, não podendo mais se sustentar no poder, a ditadura de Batista teve de ceder a Revolução, no final de 1958, os revolucionários conseguiram tomar o poder e ocupar as ruas da Capital.
São de Guevara as palavras:

Que fizemos nós para nos libertarmos desse poderoso sistema imperialista, com seu cortejo de governos fantoches em cada país e seus exércitos mercenários defendendo esse completo sistema da exploração do homem sobre o homem? As condições objetivas para a luta eram fornecidas pela fome do povo e, em reação contra essa fome, pelo terror que convocava à reação popular e pela vaga de ódio que a repressão criava por si mesma. Faltava na América as condições subjetivas, a mais importante das quais sendo a consciência de uma vitória possível, através de uma luta violenta contra o poder imperialista e seus aliados internos. Essas condições foram criadas por nossa luta armada, que permitiu tornar mais clara a necessidade de uma mudança, possibilitando também a derrota e a liquidação total do exército (condições indispensáveis a toda revolução verdadeira) pelas forças populares.
Nossa força armada, criada nos campos, conquistou as cidades, a partir do exterior, uniu-se com a classe operária e desenvolveu seu senso político no contato com esta última.









(17) Comunicado de Fidel Castro, em agosto de 1958. TUTTINO, S. In: História das Sociedades Americanas. p.398.
ENCERADO AS COMEMORAÇÕES DA VITÓRIA REVOLUCIONÁRIA, E AGORA? O QUÊ FAZER?

Inicia-se então um novo tempo em Cuba, Fidel, ao assumir o cargo de Príncipe atrai para si a responsabilidade de ao mesmo tempo dominar e seduzir a “virtu”, deusa grega que erroneamente é traduzida por “virtude” , mas para atingir este objetivo, o mesmo deverá atuar com “mãos-de-ferro” ,e personificar uma imagem implacável . Desta forma assume Fidel Castro as “rédeas” da ilha, no intuito de conter as investidas e os ataques norte-americanos , este de forma eficaz atrai para si o total apoio da grande massa, iniciando assim uma reforma total nos setores Políticos,Econômicos e Sociais.
Suas mudanças obedeceram os seguintes critérios:

• Estatização das empresas privadas(entre elas as produtoras de açúcar que representava a atividade econômica mais lucrativa da ilha)
•Confisco de bens pertencentes a elite norte-americana e cubana
•Baixa nos preços dos serviços considerados essenciais, como fornecimento de energia elétrica e aluguéis
•Gratuidade em serviços nas áreas de saúde e educação e transporte
Neste ponto podemos perceber o grande avanço social obtido neste período, onde propicia a totalidade da população, condições essenciais e necessárias para uma vida mínima, privando é claro, esta sociedade do luxo social fragmentário presente nas comunidades capitalistas.

DECLARANDO GUERRA AO ANALFABETISMO
Identificaremos neste período algo inédito, toda a população sendo mobilizada para acabar com o analfabetismo do país prova concreta que definitivamente a sociedade assumiu completamente o caráter Político-Revolucionário.

CONTRA-ATAQUE NORTE-AMERICANO

Da mesma forma que Fidel adquiria o apoio das classes sociais cubanas, também com a mesma velocidade, adquiria opositores, entre eles, a elite nacional e a inimizade eterna dos EUA.
Inicia-se por parte da oposição um movimento para a derrubada de Fidel, e após várias investidas, os Estados Unidos não vê outra alternativa senão boicotar Cuba através de um embargo econômico.

“No plano internacional o relacionamento Cuba-EUA tendeu a se tornar conflitante devido à contradição entre os interesses econômicos e financeiro norte-americanos e as diretrizes revolucionárias (...)
A redução da cota do açúcar comprado a Cuba, logo seguida da supressão total; a suspensão de todas as exportações para Cuba, reforçando a pressão econômica; o envolvimento com os grupos de exilados cubanos que projetavam atacar Cuba, seja mediante incursões aéreas partidas da Flórida desde outubro de 1959, seja dos refugiados na Guatemala, onde forças contra-revolucionárias passaram a ser mais armadas e treinadas por norte-americanos (...) violenta campanha anti-castrista na imprensa norte-americana ...”(18)


PROTEÇÃO SOVIÉTICA, ALTERNATIVA OU FALTA DE ALTERNATIVA?


Devido provavelmente a falta de opção, Fidel vê-se na necessidade de se aliar a potencia Socialista da época , algo que não combinava com sua personalidade(fazer alianças) atraindo ainda mais a ira norte-americana , desencadeando em plena guerra fria uma maior complexificação da mesma, onde encontraremos e conflito dos Mísseis.
Porém se o apoio Soviético trouxe alivio para Cuba teremos posteriormente um grave problema, O FIM DA URSS, neste período a ótica capitalista volta-se para Cuba, esperando sua queda, no entanto, mais uma vez, Cuba revela ao mundo que sua economia atingiu um patamar de maturidade e consistência suficiente para “Caminhar com suas Próprias Pernas”.





(18) ver MORRIS, R. B. Documentos Básicos da História dos Estados Unidos. pp. 181 – 183. In: História da sociedades Americanas. P. 400.


CUBA HOJE, 20 ANOS DE REVOLUÇÃO
Jorge Escosteguy, em sua obra “Cuba hoje-20 anos de Revolução” deixa-nos claro e evidente o cotidiano vivido na ilha de Cuba, são suas as palavras:
“Cuba, hoje, é um país institucionalizado,com diretrizes e mecanismos de governo bem definidos. A revolução consolidou-se, superou suas fases mais agudas de romantismo,de projetos idealistas e de sectarismo... Quando não a mais irrestrita solidariedade de muitos paises, especialmente de Terceiro mundo. O povo Cubano constrói sua sociedade socialista em relativa paz e vive em condições materiais bem melhores do que há dez,quinze, ou vinte anos. Ainda que controlados e distribuídos com austeridade, há alimentos,roupas e moradia para todos.
A educação e a saúde são gratuitas e o direito ao trabalho é sagrado. (19)
E mais, ao que concerne a liberdade de imprensa amplamente criticado pelos EUA:

Cuba é um dos países mais citados entre os que não permitem a liberdade de imprensa. O que pensam disso os jornalistas cubanos?

Ao que Angel Guerra, editor do Semanário Bohemia respondeu:

Nós, jornalistas cubanos, não acreditamos em uma só palavra do conceito burguês de liberdade de imprensa. Sabemos que nos países capitalistas existe a liberdade de impressão, e não de imprensa. E a liberdade de impressão está nas mãos dos poderosos, dos proprietários dos chamados “meios de comunicação”. E eu nunca vi um deles combater o capitalismo. Onde os jornais são da burguesia, não pode haver liberdade de imprensa. Afirmar isso seria cínico, hipócrita. Que liberdade de imprensa pode haver em países onde se concentra cada vez mais a propriedade, onde uma só pessoa é dona de vários jornais?(...)(20)

então, em primeiro lugar, o papel da imprensa numa sociedade socialista, que pertence ao povo, ao estado, que é um estado operário, camponês, dos intelectuais, da maioria – o papel da imprensa aqui é o de difundir as idéias do socialismo, difundir o heroísmo do povo na construção do socialismo, difundir o heroísmo do povo na construção do socialismo; é apoiar a luta dos povos em favor de sua libertação na América Latina, na Ásia, na África; é trabalhar em favor da paz e da distensão internacional; é recolher a opinião do povo sobre a gestão do estado revolucionário para assegurar que a política do partido se cumpra na gestão estatal e que as inquietações das massas em relação às deficiências, aos erros, à negligência, ao burocratismo, à indolência dentro da gestão estatal sejam refletidas nas páginas da imprensa.(21)




(19) ver ESCOSTEGUY, Jorge. Cuba Hoje: 20 anos de revolução. Editora Alfa-ômega. São Paulo, 1978.
(20) ESCOSTEGUY, J. Cuba Hoje: 20 anos de revolução. Editora Alfa-Ômega. São Paulo, 1979, pp 151-152.
(21)opus cit.
CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO


-Expropriou as terras dos latifúndios
-Deu início à distribuição de terras a duzentas mil famílias
-Decreta a redução de 50 % nos aluguéis, 25 % nos preços de livros escolares, 30 % nas tarifas de eletricidade e em quantidades variadas nos preços de remédios
-Fechou cassinos e casas de prostituição, confiscou propriedades da máfia norte-americana e combateu o tráfico de drogas.
-Criou-se o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica (ICAIC), com o objetivo de incentivar a produção cinematográfica cubana, fundou-se a Casa das Américas, com o objetivo de promover a integração cultural da América Latina.
-Procedeu-se com uma reforma democrática das universidades e uma reforma do ensino básico, incluindo na formação básica o incentivo e a prática do trabalho e do esporte.
-Estatizou a produção, ao mesmo tempo que se incentivava os jovens a trabalharem no campo nas grandes plantações de cana-de-açúcar e de tabaco.

CONCLUSÃO

Cuba atravessa o século XX, e nele consegue concentrar a inicial exploração Capitalista, a política de transição de mentalidade e a construção e consolidação de um sistema Socialista e humanitário, tentando ao máximo minimizar os conflitos e diferenças Sociais, assim é claro, longe de querer agradar a “gregos e troianos” Fidel, articula executa e amadurece sua Política Social baseada na tentativa de Formular uma tão sonhada Democracia em Cuba, no sentido mais pleno da palavra.
Em detrimento a isto é claro que existem ainda vários pontos de deficiência a serem sanados, como a falta de bens de consumo industrializados em larga escala, mas não obstante a isto, a Revolução adentra o Século XXI com uma marcha “Impoluta” e constante provando assim que resistir a exploração capitalista É PLENAMENTE POSSÍVEL, E Desta forma torna-se fácil afirmar que esta luta não é de Fidel, e sim de grande parte da nação Cubana.



Bibliografia Básica


CASTRO, Fidel. A História me absolverá. 5ª Edição. Ed. Alfa-Ômega. São Paulo, 1986.

ESCOSTEGUY, J. Cuba Hoje: 20 anos de Revolução. Ed. Alfa-Ômega. São Paulo, 1979.
SADER, Emir . Cuba, Chile, Nicarágua: socialismo na América Latina. Col. História viva. 9ª ed. Atual Editora. São Paulo, 1992.

SADER, Eder.“ Che Guevara-Política”,São Paulo, ed. Expressão Popular, 2004

SANTOS,Marcos F. “Imagens de Cuba, A esperança na esquina do mundo”,São Paulo, ed. Zouk, 2002.



Bibliografia Suplementar

AQUINO, Rubim Santos Leão de. & JESUS, Nivaldo Freitas de Lemos & OSCAR Guilherme Pahl Campos Lopes. História das sociedades americanas. Ed. Ao Livro Técnico. Rio de Janeiro, 1990.

MORAIS, F. A Ilha (Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro). Ed. Alfa-Ômega. São Paulo, 1977.

SADER, Emir. A Revolução Cubana. Col. Guerra e Paz. Ed. Moderna. São Paulo, 1985.


CÁCERES,Florival.“História da América”,São Paulo, ed. Moderna, 1980.

GUEVARA, “Che”. Revolução Cubana. Trad. De Juan Martinez De La Cruz. São Paulo, edições Populares, 1981.

VESENTINI,William J.“ Sociedade e Espaço- Geografia Geral e do Brasil”,São Paulo,ed. Ática ,1998.

COTRIM,Gilberto.“História e Consciência do Mundo, São Paulo, ed. Saraiva,1994.

FIGUEIRA,Divalte Garcia. “História Divalte”,São Paulo, ed. Ática, 2005.









Índice


Introdução...................................................................................................................1
Re-evolução cubana....................................................................................................2
Início da exploração: a dominação espanhola............................................................2
Características da Cuba colônia..................................................................................4
A luta pela independência...........................................................................................4
Entre a cruz e a espada................................................................................................5
Política neo-colonizante dos E.U.A............................................................................6
Socialismo antídoto?...................................................................................................8
Mais afinal o que é socialismo?..................................................................................9
Assalto ao quartel.....................................................................................................10
A auto-defesa............................................................................................................10
Em fim, reforços.......................................................................................................12
Novas tentativas........................................................................................................13
Por fim, a Revolução................................................................................................14
Encerrado as comemorações da vitória revolucionária, e agora?
o que fazer?...............................................................................................................15
Declarando guerra ao analfabetismo........................................................................15
Contra-ataque norte-americano................................................................................15
Proteção soviética, alternativa ou falta de alternativa..............................................16
Cuba hoje: 20 anos de revolução.............................................................................17
Conquistas da revolução..........................................................................................18
Conclusão.................................................................................................................18
Bibliografia...............................................................................................................19